São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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EMBARGO IDEOLÓGICO

A viagem do ex-presidente norte-americano Jimmy Carter a Cuba, a primeira de alguém que já tenha ocupado a Casa Branca desde a revolução de 1959 que colocou Fidel Castro no poder, contrasta fortemente com a política oficial de Washington para a ilha caribenha.
George W. Bush é provavelmente o mais anticubano de todos os presidentes dos EUA desde 59. Nomeou vários cubanos-americanos anti-Castro para postos-chaves em sua administração, notadamente o chefe da seção de América Latina do Departamento de Estado, Otto Reich.
Carter, que viaja em caráter privado, exerceu uma administração relativamente liberal no que diz respeito a Cuba. Foi sob sua gestão (1977-81) que os dois países restabeleceram relações diplomáticas informais. O ex-presidente ainda negociou a libertação de prisioneiros políticos e tornou possível que exilados cubanos visitassem seus parentes na ilha. Mais importante, Carter recentemente qualificou o embargo dos EUA a Cuba como "contraproducente".
Com efeito, é censurável a forma como Fidel Castro conduz a política cubana. É impossível deixar de qualificá-lo como ditador. Só que a forma que os EUA elegeram para pressionar o líder cubano -o embargo comercial- pune mais a população do que o dirigente.
No fundo, a relação Washington-Havana permanece marcada pela lógica da Guerra Fria. É um anacronismo que cada vez mais norte-americanos desejam ver superado. Para alguns analistas, a melhor forma de colocar Cuba na rota da abertura e, a seguir, da democracia é através da reaproximação com os EUA.
E o que impede um reaquecimento das relações é basicamente a comunidade cubano-americana concentrada na Flórida. Para esse grupo, que tende a reagir mais emocional do que racionalmente, Fidel é o mal a ser combatido e destruído.
Infelizmente, a gestão Bush inclina-se a dar ouvidos mais a essa comunidade do que à voz da razão.


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