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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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DEU NO "NEW YORK TIMES"

O jornal "The New York Times" noticiou com destaque, no fim de semana, o fato de ter mantido em sua redação, durante quatro anos, um jornalista responsável por fraudes em pelo menos 36 reportagens e por informações fictícias em outras 600. Por que encerrar de forma deliberadamente rumorosa um caso que, mesmo fadado ao vazamento, poderia ter sido tratado com maior discrição?
A resposta, obviamente, está no valor da credibilidade. É ela um patrimônio estratégico da boa imprensa, não apenas em sua dimensão ética mas também material. O êxito do diário americano, por exemplo, é indissociável da confiabilidade que o jornalismo por ele praticado veio emprestar à sua marca. Aí está um caso em que o mercado premia o interesse público.
A revelação é ainda mais relevante quando confrontada ao "oficialismo cirúrgico" praticado por grande parte da imprensa americana e ocidental na cobertura da guerra do Iraque. Aqui, o que se viu foi o outro lado da moeda: como o poder é capaz de atrair interesses para obter a rendição incondicional de setores da mídia a seus propósitos.
O adesismo na cobertura do conflito demonstrou o perigo da concentração dos meios de comunicação e ressaltou a importância do pluralismo e da livre concorrência.
Que o "New York Times" tenha investigado e revelado o caso é duplamente positivo. Inicialmente, pela coragem de mostrar o quanto o público está exposto a distorções no processo da informação. Pois, se um dos mais confiáveis jornais do planeta tardou tanto a detectar as fraudes, o que esperar de veículos menos comprometidos com a qualidade? Em segundo lugar, porque a decisão reafirma a crença na transparência e na autocrítica como mecanismos de controle e correção.
Nos dois casos, ganham os leitores e a ética jornalística.


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