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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

O dia do perdão

RIO DE JANEIRO - Leitores reclamam de que até agora nada escrevi contra ou a favor da tributação dos inativos. Não seja por isso. Tenho fortes, definitivas razões para desconfiar de que ninguém neste mundo de Deus administrado pelo Demônio esteja esperando a minha opinião para formar a sua. Mas não me custa dar mais um palpite.
Em princípio, sou favorável a uma taxação simbólica dos aposentados cujo benefício ultrapasse determinada faixa, digamos, acima de cinco salários mínimos. Os salários médios dos trabalhadores brasileiros são também simbólicos -as exceções não contam diante do colossal exército de Brancaleone que está lutando no mercado de trabalho.
Na circunstância atual, quando a taxação dos inativos é brandida como salvação da lavoura previdenciária, sou contrário à medida proposta pelo atual governo. No programa que o PT apresenta ao eleitorado, desde a sua fundação, a medida nem sequer é mencionada.
Contudo são numerosas, no programa e no discurso de todos os seus candidatos e militantes, as menções à cumplicidade dos governos anteriores com os devedores da Previdência, depositários infiéis do dinheiro que descontam de seus empregados e não repassam ao cofres do INSS.
Na semana passada, 90 mil processos já instaurados de devedores da Previdência, que na realidade roubam ao mesmo tempo do trabalhador e do Estado, foram beneficiados com mais uma oportunidade de renegociar a dívida que está sendo continuadamente renegociada até que chegue o Iom Kipur governamental, o Dia do Perdão de todos os que roubaram o povo e devem ao Estado.
O volume da dívida de grandes e médias empresas para com a Previdência, se não dá para cobrir integralmente o formidável déficit, pelo menos deve dar para equilibrar o caixa, sem necessidade de tributar os que pagaram por um benefício que lhes é roubado, primeiramente pelos patrões, depois pelo Estado.


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