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CARLOS HEITOR CONY
O dia do perdão
RIO DE JANEIRO - Leitores reclamam de que até agora nada escrevi contra
ou a favor da tributação dos inativos.
Não seja por isso. Tenho fortes, definitivas razões para desconfiar de que
ninguém neste mundo de Deus administrado pelo Demônio esteja esperando a minha opinião para formar
a sua. Mas não me custa dar mais
um palpite.
Em princípio, sou favorável a uma
taxação simbólica dos aposentados
cujo benefício ultrapasse determinada faixa, digamos, acima de cinco salários mínimos. Os salários médios
dos trabalhadores brasileiros são
também simbólicos -as exceções
não contam diante do colossal exército de Brancaleone que está lutando
no mercado de trabalho.
Na circunstância atual, quando a
taxação dos inativos é brandida como salvação da lavoura previdenciária, sou contrário à medida proposta
pelo atual governo. No programa que
o PT apresenta ao eleitorado, desde a
sua fundação, a medida nem sequer
é mencionada.
Contudo são numerosas, no programa e no discurso de todos os seus
candidatos e militantes, as menções à
cumplicidade dos governos anteriores com os devedores da Previdência,
depositários infiéis do dinheiro que
descontam de seus empregados e não
repassam ao cofres do INSS.
Na semana passada, 90 mil processos já instaurados de devedores da
Previdência, que na realidade roubam ao mesmo tempo do trabalhador e do Estado, foram beneficiados
com mais uma oportunidade de renegociar a dívida que está sendo continuadamente renegociada até que
chegue o Iom Kipur governamental,
o Dia do Perdão de todos os que roubaram o povo e devem ao Estado.
O volume da dívida de grandes e
médias empresas para com a Previdência, se não dá para cobrir integralmente o formidável déficit, pelo
menos deve dar para equilibrar o caixa, sem necessidade de tributar os
que pagaram por um benefício que
lhes é roubado, primeiramente pelos
patrões, depois pelo Estado.
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