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São Paulo, quarta-feira, 14 de maio de 2003

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FERNANDO RODRIGUES

Coração partido e alma vendida

BRASÍLIA - O deputado federal Lindberg Farias (PT-RJ) elegeu-se no ano passado com 83.468 votos. Foi o 24º colocado na disputa.
Em 1998, ainda filiado ao trotskista PSTU, teve 73.791 votos, ficou na 22ª posição no Rio, mas não conseguiu uma vaga na Câmara.
Se já estivesse no PT em 1998, os votos de Lindberg teriam sido suficientes para elegê-lo deputado pelo Rio. Na época, sua minúscula legenda não teve músculo suficiente para enviá-lo a Brasília (pois não foi atingido o quociente eleitoral).
Radical ao chegar a Brasília neste ano, Lindberg estava ameaçado de expulsão do PT. Não queria votar a favor da cobrança de servidores aposentados. Sua opção seria manter-se fiel a suas convicções ideológicas, ficar sem sigla e mofar novamente no PSTU, onde possivelmente nunca mais se elegeria a nada.
Lindberg analisou melhor. Aceitou a proposta da direção petista. Vai se posicionar contra a cobrança dos inativos, mas votará com a maioria. Em resumo, capitulou.
É difícil perscrutar as razões exatas para tantos (sic) radicais do PT noticiados pela mídia estarem reduzidos a apenas três: a senadora Heloísa Helena (AL) e os deputados Babá (PA) e Luciana Genro (RS).
Todos os demais aceitaram a proposta da direção petista, nos moldes de Lindberg. São contra tributar inativos, mas, se a maioria decidir a favor, vão no embalo e tudo bem.
Com essa razia em sua base congressual, o PT emite um sinal forte para todos os seus aliados: não será tolerada nenhuma dissidência.
Partidos menos ideológicos terão de suar a camisa para apresentar 100% dos votos quando for a hora.
É claro que haverá quem prefira fazer como Heloísa Helena. "Melhor o coração partido do que a alma vendida", diz ela. Mas esses são minoria. Lula, que já afirmou haver 300 picaretas no Congresso, sabe disso.


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