São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

O pobre cenário político nacional

É desanimador ver a presente legislatura chegar ao fim com um resultado pífio em termos de projetos aprovados.
Desde a eclosão das graves denúncias de corrupção ocorridas em meados do ano passado, o Congresso Nacional está praticamente parado. Convocou-se um trabalho extraordinário nos meses de férias dos parlamentares e, ainda assim, pouco se conseguiu em matéria de decisões que pudessem ajudar a nação.
Perdeu-se uma enormidade de tempo com um verdadeiro festival de CPIs que, no fundo, não deram em nada. Os parlamentares, com raras exceções, viram nessas comissões uma extraordinária oportunidade de se fazerem presentes perante os seus eleitores. As transmissões ao vivo das televisões e rádios deram a eles o palco necessário para apresentar a sua vocação para atores de teatro.
A valentia foi a marca dominante ao serem focalizados pelas câmeras e propagados pelas emissoras de rádio. As transmissões chegaram a magnetizar a população, alcançando índices de audiência jamais vistos em programas políticos.
Nas reuniões da Comissão de Ética, os parlamentares mostraram sua firme disposição de "apurar todos os fatos" e propor uma "punição exemplar" aos infratores. Mas, no plenário, onde o voto é secreto, muitos deles absolveram os denunciados.
O tempo consumido comprometeu a tramitação de projetos importantes. E o dinheiro gasto reduziu ainda mais a capacidade de investimento do poder público. Será que essa situação é atraente para os produtores sérios que desejam investir no setor produtivo do Brasil?
O pior é que todo esse esforço foi para nada. Os depoimentos apresentados pelos convocados foram os mais deslavados. Uns não sabiam que tinham recebido dinheiro; outros disseram que o dinheiro desviado era para causas nobres; houve até os que afirmaram não ter lido reportagem a seu respeito de alcance nacional e vista por quase todos os brasileiros.
Em face de tanta desfaçatez, os parlamentares, em lugar de reagirem com firmeza e punirem quem é culpado, querem mais CPIs. Mas para quê? Novamente, para ter o seu "machismo" exibido na televisão -e nada mais do que isso.
Quem assim age conspira gravemente contra a democracia. Faz as pessoas descrerem da liberdade. Lança os eleitores nos braços dos falsos heróis. Leva o povo a buscar apoio no autoritarismo de quem promete fazer tudo aquilo que o Legislativo não conseguiu fazer.
Diante disso, só resta ao povo fazer justiça com as próprias mãos, ou seja, depositar nas urnas um voto de condenação aos enganadores da nação. Oxalá os eleitores não tenham sua memória apagada pela força da propaganda eleitoral, que, em breve, martelará suas mentes.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br


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