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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
O pobre cenário político nacional
É desanimador ver a presente legislatura chegar ao fim com um
resultado pífio em termos de projetos
aprovados.
Desde a eclosão das graves denúncias de corrupção ocorridas em meados do ano passado, o Congresso Nacional está praticamente parado. Convocou-se um trabalho extraordinário
nos meses de férias dos parlamentares
e, ainda assim, pouco se conseguiu em
matéria de decisões que pudessem
ajudar a nação.
Perdeu-se uma enormidade de tempo com um verdadeiro festival de
CPIs que, no fundo, não deram em
nada. Os parlamentares, com raras exceções, viram nessas comissões uma
extraordinária oportunidade de se fazerem presentes perante os seus eleitores. As transmissões ao vivo das televisões e rádios deram a eles o palco
necessário para apresentar a sua vocação para atores de teatro.
A valentia foi a marca dominante ao
serem focalizados pelas câmeras e
propagados pelas emissoras de rádio.
As transmissões chegaram a magnetizar a população, alcançando índices
de audiência jamais vistos em programas políticos.
Nas reuniões da Comissão de Ética,
os parlamentares mostraram sua firme disposição de "apurar todos os fatos" e propor uma "punição exemplar" aos infratores. Mas, no plenário,
onde o voto é secreto, muitos deles absolveram os denunciados.
O tempo consumido comprometeu
a tramitação de projetos importantes.
E o dinheiro gasto reduziu ainda mais
a capacidade de investimento do poder público. Será que essa situação é
atraente para os produtores sérios que
desejam investir no setor produtivo
do Brasil?
O pior é que todo esse esforço foi para nada. Os depoimentos apresentados pelos convocados foram os mais
deslavados. Uns não sabiam que tinham recebido dinheiro; outros disseram que o dinheiro desviado era para
causas nobres; houve até os que afirmaram não ter lido reportagem a seu
respeito de alcance nacional e vista
por quase todos os brasileiros.
Em face de tanta desfaçatez, os parlamentares, em lugar de reagirem com
firmeza e punirem quem é culpado,
querem mais CPIs. Mas para quê? Novamente, para ter o seu "machismo"
exibido na televisão -e nada mais do
que isso.
Quem assim age conspira gravemente contra a democracia. Faz as
pessoas descrerem da liberdade. Lança os eleitores nos braços dos falsos
heróis. Leva o povo a buscar apoio no
autoritarismo de quem promete fazer
tudo aquilo que o Legislativo não conseguiu fazer.
Diante disso, só resta ao povo fazer
justiça com as próprias mãos, ou seja,
depositar nas urnas um voto de condenação aos enganadores da nação.
Oxalá os eleitores não tenham sua memória apagada pela força da propaganda eleitoral, que, em breve, martelará suas mentes.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
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