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O lugar dos jovens
Dados sobre riscos da juventude reforçam tese de que prioridade à escola básica pode ser decisiva para o progresso social
NADA EXISTE de mais
perverso, em matéria
social, do que relegar a
juventude à ausência
quase completa de perspectivas.
No Brasil, essa vinha sendo a realidade vivida por boa parte das
gerações nascidas em décadas
passadas, especialmente nas
grandes cidades. Há sinais, porém, de que o prolongado ciclo
de abandono estaria próximo de
uma reversão, como sugere o Índice de Vulnerabilidade Juvenil
(IVJ) apresentado na semana
passada em São Paulo.
O indicador criado pela Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) se baseia
em três tipos de informação associados com a marginalização
dessa faixa etária: freqüência escolar, morte por homicídio e gravidez precoce. Colhidos em 96
distritos da capital, os dados reunidos na cifra de 0 a 100 oferecem um instantâneo do nível de
risco a que os jovens estão expostos. Quanto maior o número,
pior a situação.
De 2000 para 2005, o IVJ paulistano caiu de 70 para 51. Tão
auspicioso quanto a queda, em si,
é seu detalhamento estatístico:
deu-se de modo uniforme em todas as regiões do município, ricas
ou pobres; nestas, de maneira
mais acentuada (24 pontos de
decréscimo). O IVJ dos 19 distritos mais desfavorecidos em 2005
(64) era melhor que a própria
média da cidade no ano 2000.
O dado que chama mais a atenção está no peso da freqüência ao
ensino médio, responsável por 8
pontos no recuo total de 19 observado pelo índice. Se em 2000
apenas 52% dos paulistanos de
15 a 17 anos estavam matriculados nesse nível, em 2005 o contingente já se encontrava em
68%. Um progresso considerável, sobretudo quando se tem em
conta que as áreas mais pobres
seguiram ritmo similar (de 47%
para 63%).
O segundo fator que mais influiu na melhora, retirando do
IVJ cinco pontos no qüinqüênio,
foi a queda na taxa de mortalidade por agressão de rapazes entre
15 e 19 anos. De 216 óbitos por
100 mil jovens, desceu para 141.
Taxa elevada, decerto, mas a
queda é animadora.
Embora a correlação entre as
duas variáveis não possa ser encarada de pronto como relação
de causa e efeito -mais educação levando a menos violência-,
há algo de sugestivo. Pode-se dizer, no mínimo, que as causas
porventura em ação parecem
concorrer para o duplo efeito.
Difícil seria imaginar que qualquer progresso social pudesse
ser alcançado sem avanço considerável no ensino, em especial
num país que, como o Brasil, o
viu despencar num abismo de
ineficiência. Mostra-se acertada,
portanto, a prioridade dada na
esfera pública à reforma da educação básica, que impôs ao governo Lula a necessidade de uma
resposta, na forma do Plano de
Desenvolvimento da Educação.
Esta Folha, como tantos setores sociais, deu boas-vindas ao
plano e apoiou as metas do movimento Todos pela Educação
para o ano 2022. Entre elas, a de
que 90% dos jovens de 19 anos
completem o ensino médio (hoje
são cerca de 39%). O IVJ paulistano vem corroborar que esse é o
caminho a seguir, no país todo.
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