|
Próximo Texto | Índice
À procura do piso
Presidente do Fed parece prestes a superar sua "prova de fogo'; déficit público dos EUA e moeda fraca chinesa preocupam
A
FALA de 5 de junho do
presidente do Fed, Ben
Bernanke, encerrou
um período de semanas de incertezas sobre os rumos
da maior economia do planeta.
Desde lá, o comportamento dos
mercados de ações pelo mundo,
que alternava dias de fortes baixas com outros de retomadas vigorosas, tem sido mais homogêneo. Prevalece o movimento de
venda de papéis, o que vem derrubando as Bolsas no planeta.
Gestores de grandes fundos de
investimento diminuíram suas
posições em ações e outros títulos de empresas, opção exacerbada em suas aplicações nos países
emergentes. Um dos destinos
preferenciais desse capital -que,
no período de maior incerteza e
frenesi, antes da fala de Bernanke, "testou" diferentes ativos-
têm sido os títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA.
A maior demanda por essa
aplicação, considerada a mais segura, tem feito subir o preço dos
papéis de dez anos da dívida
americana, diminuindo os juros
pagos a seu detentor, que ontem
fecharam em 4,96% ao ano (contra um pico, inédito em quase
quatro anos, próximo de 5,2%,
em meados do mês passado). Há
sinal, ainda a ser confirmado, de
que as cotações nos mercados futuros de commodities metálicas
e de energia estejam cedendo.
Se o núcleo do índice da inflação no atacado de maio nos EUA
(0,3%), divulgado ontem, veio ligeiramente acima do esperado
(0,2%), os dados também mostraram uma forte desaceleração
no item mais preocupante: energia. Ou seja, o choque nos preços
dos insumos pode estar se propagando para outros preços, mas
o fôlego para essa tendência persistir no futuro diminuiu.
Sem ter de mexer na taxa de juros de curto prazo -apenas sugerindo que o Fed vai fazê-lo em
sua reunião de 8 de agosto-,
Bernanke parece ter conseguido
conduzir os mercados na direção
que desejava em seu discurso da
semana passada. Os agentes,
agora, devem começar a tatear à
procura de um piso para a desvalorização dos índices acionários.
O Nasdaq, índice da Bolsa americana que concentra papéis de
empresas de tecnologia, perdeu
mais de 10% desde o pico de 19 de
abril. Tal nível de desvalorização
-chamada no mercado de "correção"- indica um ponto a partir
do qual os agentes costumam
procurar ações que ficaram baratas a fim de retomar as compras.
É provável que a fase aguda de
venda de papéis também esteja
prestes a terminar no caso de outros mercados. Essa mudança
pode até inaugurar um novo período de altos e baixos, mas dificilmente significará um "boom".
A expectativa é a de que a economia global modere seu ritmo de
crescimento daqui para a frente.
Embora Bernanke pareça
prestes a superar sua "prova de
fogo", ele não é o único de cuja
ação depende a minimização dos
riscos de uma recessão mundial
no futuro. Para tanto, a política
econômica dos EUA precisa acenar, definitivamente, para a diminuição do seu déficit orçamentário, e a da China deve acomodar um movimento suave e
coordenado de valorização de
sua moeda. Nenhum desses passos está garantido. Longe disso.
Próximo Texto: Editoriais: Ainda faltam explicações Índice
|