São Paulo, quarta-feira, 14 de junho de 2006

Próximo Texto | Índice

À procura do piso

Presidente do Fed parece prestes a superar sua "prova de fogo'; déficit público dos EUA e moeda fraca chinesa preocupam

A FALA de 5 de junho do presidente do Fed, Ben Bernanke, encerrou um período de semanas de incertezas sobre os rumos da maior economia do planeta. Desde lá, o comportamento dos mercados de ações pelo mundo, que alternava dias de fortes baixas com outros de retomadas vigorosas, tem sido mais homogêneo. Prevalece o movimento de venda de papéis, o que vem derrubando as Bolsas no planeta.
Gestores de grandes fundos de investimento diminuíram suas posições em ações e outros títulos de empresas, opção exacerbada em suas aplicações nos países emergentes. Um dos destinos preferenciais desse capital -que, no período de maior incerteza e frenesi, antes da fala de Bernanke, "testou" diferentes ativos- têm sido os títulos de longo prazo do Tesouro dos EUA.
A maior demanda por essa aplicação, considerada a mais segura, tem feito subir o preço dos papéis de dez anos da dívida americana, diminuindo os juros pagos a seu detentor, que ontem fecharam em 4,96% ao ano (contra um pico, inédito em quase quatro anos, próximo de 5,2%, em meados do mês passado). Há sinal, ainda a ser confirmado, de que as cotações nos mercados futuros de commodities metálicas e de energia estejam cedendo.
Se o núcleo do índice da inflação no atacado de maio nos EUA (0,3%), divulgado ontem, veio ligeiramente acima do esperado (0,2%), os dados também mostraram uma forte desaceleração no item mais preocupante: energia. Ou seja, o choque nos preços dos insumos pode estar se propagando para outros preços, mas o fôlego para essa tendência persistir no futuro diminuiu.
Sem ter de mexer na taxa de juros de curto prazo -apenas sugerindo que o Fed vai fazê-lo em sua reunião de 8 de agosto-, Bernanke parece ter conseguido conduzir os mercados na direção que desejava em seu discurso da semana passada. Os agentes, agora, devem começar a tatear à procura de um piso para a desvalorização dos índices acionários.
O Nasdaq, índice da Bolsa americana que concentra papéis de empresas de tecnologia, perdeu mais de 10% desde o pico de 19 de abril. Tal nível de desvalorização -chamada no mercado de "correção"- indica um ponto a partir do qual os agentes costumam procurar ações que ficaram baratas a fim de retomar as compras.
É provável que a fase aguda de venda de papéis também esteja prestes a terminar no caso de outros mercados. Essa mudança pode até inaugurar um novo período de altos e baixos, mas dificilmente significará um "boom". A expectativa é a de que a economia global modere seu ritmo de crescimento daqui para a frente.
Embora Bernanke pareça prestes a superar sua "prova de fogo", ele não é o único de cuja ação depende a minimização dos riscos de uma recessão mundial no futuro. Para tanto, a política econômica dos EUA precisa acenar, definitivamente, para a diminuição do seu déficit orçamentário, e a da China deve acomodar um movimento suave e coordenado de valorização de sua moeda. Nenhum desses passos está garantido. Longe disso.


Próximo Texto: Editoriais: Ainda faltam explicações

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.