|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FERNANDO DE BARROS E SILVA
Lula, "um vazio" e a vuvuzela
SÃO PAULO - Já no final de seu discurso, Lula lembrou que pela primeira vez, desde 1989, seu nome
não estará na urna, entre as opções
para presidente: "Vai haver um vazio naquela cédula", ele disse, sorrindo. E completou: "Para preencher esse vazio, eu mudei meu nome e coloquei Dilma lá".
Foi como uma cena de sexo explícito. Mas, ao contrário do que se
passa nos filmes pornô, Lula estava
sendo espontâneo. Seu regozijo era
genuíno. Um pouco antes deste
momento culminante da convenção do PT, ontem em Brasília, o presidente já havia deixado escapar:
"Como eu queria ser economista e
não sou, escolhi para ser presidente
uma economista". Dilma apenas
sorria, empetecada.
"Mudei de nome", "escolhi para
ser" -Lula deu seu show de sinceridade. Depois que Serra o comparou
a Luís 14, Luiz da Silva à sua maneira responde: Dilma sou eu! Expôs
ao mesmo tempo a força da candidatura e a fragilidade da candidata.
Isso ficou mais uma vez patente
quando a própria Dilma tomou a
palavra. Fez um discurso tecnocrático, modorrento, sem ênfases ou
graça. A plateia se dispersou e cochichava bastante enquanto a petista falava em "óleo cru" do petróleo ou na nossa "robusta poupança". Uma amiga resumiu o tédio:
"Ai, cadê a minha vuvuzela!?".
Nada disso importa muito para
efeitos de campanha. A plateia estava lá para enfeitar o show muito
bem montado por João Santana, o
marqueteiro. Se o PSDB fez, no sábado, um espetáculo mambembe,
com repentistas e motivos nordestinos, o PT fez uma festa hollywoodiana, uma convenção à americana, sem medo de ser "mainstream".
Tudo girou em torno da celebração da "mulher brasileira", tudo foi
produzido para ligar Dilma à identidade feminina. No final, uma fila de
meninas, ainda crianças, desceu de
uma escada até o palco. Vestiam
branco, cada uma com sua faixa
presidencial. Havia algo de Cinderela no ar. E ficou no ar a sensação
de "um vazio naquela cédula".
Texto Anterior: Editoriais: Decolagem atrasada
Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: "Lula tá com ela" Índice
|