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MARCOS NOBRE
Preço
alto
DESDE O PRIMEIRO governo
FHC, o eleitorado decidiu
colocar o PT como um dos
polos da política brasileira. Depois
do trauma do mensalão, em 2005,
Lula decidiu aceitar as regras do jogo postas por seu antecessor. Só
que o PT não estava disposto a se
tornar um gestor político de tipo
tucano e terceirizou a tarefa -para
o próprio Lula, no caso.
O arranjo -de psicologia política, por assim dizer- foi então mais
ou menos o seguinte. Posto de joelhos depois do mensalão, o PT engoliu tudo o que um Lula em pânico do impeachment lhe enfiou goela abaixo. Ao mesmo tempo em que
pôs nas costas de Lula todo o ônus
por fazer o jogo mais rés-do-chão
da política tradicional, o PT escorou-se na popularidade do presidente e se colocou como vítima fiel
do seu necessário pragmatismo da
governabilidade.
Afinal, do outro lado estavam
os inimigos. E, apesar de tudo, ainda havia espaços de poder para implementar algumas das bandeiras
tradicionais do partido. E, não menos importante, o presidente é o
mais popular da recente história
democrática. Negócio bom para os
dois lados.
Até que Lula resolveu inventar
uma candidata quase três anos antes da eleição presidencial, instalando uma confusão no sistema político como raras vezes se viu. Impôs sem discussão o nome ao PT.
Insistindo em um nome desconhecido, Lula deu a senha para o
PMDB cobrar -e conseguir- um
preço cada vez mais exorbitante
pelo seu apoio. Que, aliás, vale só
tempo de TV e olhe lá.
Quando foi anunciada a doença
de Dilma Rousseff, subiu mais uma
vez o preço. A irresponsabilidade
máxima de Lula de dizer que a ministra "não tem mais nada" teve como contrapartida política nada
menos do que a imposição ao PT da
defesa de Sarney.
É verdade que, entre outras malfeitorias, a bancada do PT no Senado -com honrosas exceções- tinha já no seu currículo a salvação
de Renan Calheiros da cassação.
Mas 2007 já vai longe. E a defesa
de Sarney agora não vai passar
em brancas nuvens para o eleitorado em 2010.
Foi por isso que Lula teve de intervir e cobrir o presidente do Senado com seu manto de popularidade redentor. Um pedido, aliás, do
próprio PT para poder fazer vista
grossa para a baixaria generalizada
-de que não escapam integrantes
da sua própria bancada no Senado,
lembre-se.
Hoje, o PT só vai conseguir manter a pretensão de continuar a ser
um dos polos da política brasileira
se confrontar Lula. Porque sua
posição no momento é a de pagar
por Lula a conta da chantagem
a que o próprio presidente decidiu
se expor. E a conta não vai parar
de subir.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras
nesta coluna.
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