|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS MOTA
Manifesto do Partido Criminoso
SÃO PAULO- O seqüestro de um
repórter e um técnico da TV Globo,
no sábado, é a etapa mais recente da
rápida evolução da facção PCC rumo ao terror. Os bandidos conseguiram que a emissora transmitisse
para todo o território paulista um
manifesto contra o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), a norma que permite isolar os chefes da
organização nos presídios.
Um bacharelismo degradado, absorvido em cursos de direito de terceira e pelo autodidatismo encarcerado, embala o texto dito por um
homem de capuz. O RDD, afirma,
"agride o primado da ressocialização do sentenciado, vigente na
consciência mundial desde o Ilusionismo" (...). Quis dizer Iluminismo,
penso eu, mas isso pouco importa.
Esse discurso é só pretexto. Enverniza o que é relevante no episódio: uma nova técnica de disseminar o medo foi desenvolvida pelos
criminosos. Seqüestrar jornalistas
(e estrangeiros em geral) e transmitir em vídeo perorações rudimentares contra o "Ocidente" e ultimatos
para as nações dos cativos retirarem tropas do Iraque foi um "modismo" -no termo do governador
Cláudio Lembo- que teve seu pico
há uns dois anos no Oriente Médio.
Pode até não ser condizente com
o interesse original da quadrilha
paulista -vida mansa aos líderes
presos- a adoção de práticas ainda
mais mortíferas e destruidoras daqui para a frente. Faz algum tempo,
entretanto, que o PCC rompeu
fronteiras e invadiu a esfera do terror. Age cada vez mais constrangido
pelo espírito de inovar, de surpreender, para que sua capacidade
de assustar os cidadãos e acuar as
autoridades se mantenha.
O plano frustrado pela polícia
britânica na quinta-feira é mais
uma prova de que, em matéria de
terrorismo, não há limites para a inventividade. O que não dá para aceitar é que esteja em presídios, cujo
controle é tarefa básica do poder
público, a origem da ameaça que
paira sobre São Paulo. É como a história da jabuticaba -terror comandado das celas, só no Brasil.
Texto Anterior: Editoriais: Ocultações perigosas Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: "A luta é nós e vocês" Índice
|