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SERGIO COSTA
Tudo dominado
RIO DE JANEIRO - Ao descer o
morro do Vidigal, numa manhã, o
blindado do Bope (Batalhão de
Operações Especiais da PM) trouxe
sete fuzis e uma metralhadora a tiracolo e deixou oito corpos para
trás. Os homens de preto haviam
terminado a missão de intervir
num confronto na favela que matou
16 só esse mês.
Seria uma manhã como dezenas
de outras no Rio após uma operação policial em favela, mesmo com
o número elevado de baixas do lado
do tráfico, não fosse o entusiasmo
de alguns moradores. "Caveeeeira,
Caveeeeira!", gritavam em saudação ao blindado.
Os repórteres desconfiaram da
manifestação pró-PM. Normalmente, o que acontece após uma
ação é um monte de mães e irmãs se
atirar à frente das câmeras gritando
que era "tudo trabalhador!".
Não era. Dessa vez era "tudo alemão" -gíria que nas favelas denomina inimigo. Por inimigo aí, entenda-se integrantes do CV (Comando Vermelho) que invadiram o
Vidigal, território do ADA (Amigo
dos Amigos). Na prática, o Bope
ajudou o "governo" local a rechaçar
os "alemães", uma vez que só matou
de um lado, daí os aplausos. Os mortos eram mercenários do CV recrutados em vários morros da cidade.
Três deles eram do Chapéu Mangueira, no Leme.
Tanto que uma enorme faixa preta foi desfraldada na favela em luto
por seus "soldados" mortos. Entre
os quais, um jovem de classe média
de Copacabana que fugira de casa
para se alistar ao tráfico.
Os homens do Bope, que costumam se exercitar cantando que sua
missão é "deixar corpos no chão",
dessa vez haviam feito "a coisa certa", pelo menos para os moradores
de uma favela, conformados com
um tipo de gestão do tráfico implementado por crias do morro.
E a gente ainda tem que dormir
com um barulho (de tiros) desses.
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