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ELIANE CANTANHÊDE
Aritmética da impunidade
BRASÍLIA - Até que eu me esforço
para cultivar meu lado Poliana, para ver o lado positivo das coisas,
acreditar que hoje é melhor do que
ontem e que amanhã será melhor
do que hoje. Mas está ficando cada
vez mais difícil. Assim não dá.
Levantamento publicado na última edição da revista "Veja" sobre os
resultados de dez operações realizadas pela Polícia Federal entre
2003 e 2004 mostra que o festival
não deu em nada. De 245 presos, só
64 foram julgados e só dois continuam onde a maioria deveria estar:
na cadeia. Ou seja: 245 passaram
para 64 e viraram dois.
As operações eram fantásticas, e
os nomes, criativos e instigantes:
Anaconda, Gafanhoto, Vampiro,
Pororoca, Sentinela. Repórteres e
fotógrafos deliravam com o espetáculo. As pessoas em casa pensavam:
"Agora, vai!" Foi?
Há uma espécie de complô para o
sistema não funcionar. A polícia investiga e prende, mas a Justiça não
é para fazer justiça. É toda montada
e operada para fazer teatro e legitimar uma rede e uma realidade em
que bandidinho vagabundo e até
inocentes acabem atrás das grades
e bandido de grande calibre e contas milionárias continue por aí, livre, leve e solto.
Quando tem o título de "político",
então, nem se fala. As polícias do
Brasil, dos EUA, da Suíça, das ilhas
isso e aquilo podem providenciar
montanhas de provas e documentos, mas o que prevalece são os privilégios. Há excesso de habeas corpus, apelações, prescrições.
Os advogados são pagos a peso de
ouro, não para defender, mas para
empurrar com a barriga. Pedem incontáveis revisões e contam os
anos, os meses e as horas para o crime prescrever. Enquanto isso, o
ilustre cliente desfila pelas colunas
sociais, senta em plenários e vai a
tribunas fazer discursos incríveis
como "representante do povo".
Então fica difícil torcer, acreditar. Como não ver, não ouvir, não
falar? Como não escrever?
elianec@uol.com.br
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