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ELIANE CANTANHÊDE
Mentira tem perna curta
BRASÍLIA - A Casa Civil da Presidência é um local fantástico, onde
tudo acontece, mas nada acontece.
Fiquemos no governo Lula, com
José Dirceu e Dilma Rousseff.
O braço direito de Dirceu, Waldomiro Diniz, saiu da oposição para a
situação e da condição de acusador
para a de acusado ao pedir propina
para banqueiro de bicho. Mas o
chefe Dirceu não sabia de nada.
Quando estourou o mensalão, ele
também disse que não sabia de nada. Até vir a público sua agenda no
Planalto, mostrando reuniões curiosas de presidentes de empresas e
de bancos com presidente e tesoureiro de partido político.
Agora, esse disse-que-disse entre
Dilma e Lina Vieira, ex-chefe da Receita, sobre um encontro sigiloso
das duas e um suposto pedido para
a Receita "agilizar" (seria enterrar?) processos contra o filho de
Sarney. Lina insiste que houve o encontro, e a sua então chefe de gabinete corrobora a versão. Mas Dilma
diz que não sabe nada disso.
É a palavra de uma contra outra,
mas circunstâncias e precedentes
favorecem a versão de Lina Vieira.
Primeiro, porque ela diz que não
aceitou a ordem, sugestão, ou seja lá
o que for -o que, pelo menos, dá
sentido à sua súbita demissão.
Segundo, porque Dilma já passou
por isso. O primeiro presidente da
Anac, Milton Zuanazzi, vivia no
Planalto e não dava um passo sem
consultar a ministra. O compadre
de Lula, metido com aviação, também visitava bastante a Casa Civil.
Mas Dilma jurou que não tinha nada a ver com a salvação da "insalvável" Varig e não sabia de nada.
E, quando Erenice Guerra (de alguma forma a sua Waldomiro) se
enroscou com o dossiê, ou "banco
de dados", contra FHC e sua mulher, Dilma também não sabia.
Diante de tantas crises de memória, só há uma solução: aos fatos! À
agenda e às fitas do entra-e-sai do
Planalto. Alguém está mentindo. E
mentira, como a agenda de Dirceu
confirmou, tem perna curta.
Ah! Quem deu a agenda de Dirceu
para a CPI foi sua sucessora, Dilma.
elianec@uol.com.br
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