São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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DEGRADAÇÃO

A honestidade, que em outros tempos era tida como uma virtude insuspeita, tornou-se, nos dias de hoje, em certos meios sociais, sinônimo de frouxidão na vida prática, de "ser otário", em bom português. Essa mudança de significado é considerada por muitos sintoma da degradação dos costumes.
É inegável que que as coisas pioraram -e muito- no Brasil em termos de corrupção, violência e tolerância para com o intolerável. Mesmo fatos absolutamente inaceitáveis já não despertam a indignação que deveriam. Presos encomendam, da cadeia, mísseis, pizzas, chope, assassinatos, e organizam bailes funk. Desnecessário dizer que seguem administrando tranquilamente suas atividades criminosas, só que sob a guarda do Estado, sem ter de preocupar-se com a polícia. Levam até uma vantagem comparativa sobre seus concorrentes que estão soltos.
São inúmeras as causas que contribuíram para tão lamentável estado de coisas. Elas incluem desde fatores macroeconômicos, como o desemprego, até a pequena corrupção do agente penitenciário, que deixa telefones celulares chegarem aos presos. A solução -ou pelo menos o encaminhamento- para essas questões não é tarefa simples que possa ser resolvida num passe de mágica. A deterioração vem ocorrendo há décadas. Outros tantos decênios serão necessários para que situação possa ser revertida. E isso se começarmos a atuar desde já sobre a distribuição de renda, a educação, a saúde, o lazer.
Esse horizonte de longo prazo não deve isentar o poder público do imperativo de cumprir com suas obrigações mais comezinhas, como impedir que presidiários sigam no comando de cartéis criminosos. É uma tarefa urgente à qual o Estado não pode se furtar, sob pena de desmoralizar-se ainda mais. O resgate dos valores éticos passa pelo resgate do Estado como instituição que a todos representa e promove o bem geral.


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