São Paulo, sábado, 14 de setembro de 2002

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Dom Lucas, fiel servidor

Chegará ao Brasil nesta tarde o corpo de d. Lucas cardeal Moreira Neves, morto em 8 de setembro em Roma, para ser sepultado na catedral basílica de Salvador, na segunda-feira, às 15 horas. O Santo Padre João Paulo 2º presidiu os funerais na basílica de São Pedro, na quarta-feira, expressando a sua profunda amizade a d. Lucas, a quem muito estimava e a quem considerava um dos seus mais queridos cooperadores. Na ocasião, João Paulo 2º invocou do Altíssimo a paz e o conforto espiritual em sufrágio de sua alma, as sinceras condolências aos membros da família, pedindo a Deus Todo-Poderoso que recompense abundantemente esse fiel servidor da Igreja no Brasil e da Sé Apostólica. Eis o mais belo elogio ao nosso caro d. Lucas, proclamado pelo Papa: "fiel servidor da Igreja". Todos os que o conhecemos, desde os primeiros anos de sua vida sacerdotal e religiosa até o cardinalato e as muitas missões recebidas, podemos, com efeito, constatar seu incondicional amor à Igreja e o seu devotamento pessoal aos papas Paulo 6º e João Paulo 2º.
Tive a oportunidade de participar em Roma da sua elevação ao cardinalato (em 28/6/88) e percebi o vínculo recíproco de confiança em d. Lucas por parte de João Paulo 2º e o intenso afeto pela devoção de seu colaborador em difíceis tarefas assumidas a serviço do Santo Padre.
Nos últimos anos, após ter renunciado, por motivo de saúde, ao importante cargo de Prefeito da Congregação dos Bispos, sentia grande consolação em colaborar como consultor das Congregações Romanas. Residia no Vaticano e, de seu quarto, podia contemplar a janela dos aposentos pontifícios. Dali, muitas vezes elevava as suas preces, pedindo a Deus as bênçãos para o Santo Padre.
Dom Lucas unia a sensibilidade artística e musical e a sólida formação teológica ao dom da palavra, ao discernimento espiritual e ao empenho a serviço da evangelização.
Ao ser nomeado arcebispo de Salvador da Bahia e primaz do Brasil (1987), sabia que iniciava uma fase nova de sua vida. Deixava Roma, onde atuara durante 13 anos, para dedicar-se a Salvador. Pouco a pouco, foi-se identificando com a beleza cultural e com a simpatia do povo baiano e foi dando sempre mais provas de total dedicação à sua missão de pastor. Mesmo inserido nos usos e costumes e na ação pastoral na Bahia, d. Lucas continuava, como diz o seu lema, "vigilante desde a aurora", atento aos sinais dos tempos e às necessidades da Igreja e do mundo, como percebemos na sua atuação nos dicastérios e nos sínodos romanos, na presidência da CNBB e no zelo pela América Latina.
Entre as muitas virtudes de d. Lucas, permito-me lembrar a sua devoção a Nossa Senhora, o seu constante empenho pastoral pelo laicato, pela vida religiosa e pelos jovens e, de modo muito peculiar, a sua preocupação com o nível moral dos meios de comunicação social.
É, certamente, com muito afeto e carinho que o povo baiano acolhe agora o corpo de seu arcebispo emérito na catedral basílica. A solene liturgia será realizada em 16/9, na segunda-feira, data de seu 77º aniversário.
Dom Lucas tornou-se, em Roma, mais um homem de visão sobre o mundo e o Reino de Deus, mas conservou sempre a simplicidade amiga do mineiro nascido em São João Del-Rei e demonstrou que seu amor de pastor soube, em poucos anos, conquistar o coração do querido povo baiano.
Sua vida, fecunda em merecimentos, é, para todos nós, um dom de Deus.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.



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