|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Dom Lucas, fiel servidor
Chegará ao Brasil nesta tarde o
corpo de d. Lucas cardeal Moreira
Neves, morto em 8 de setembro em
Roma, para ser sepultado na catedral
basílica de Salvador, na segunda-feira,
às 15 horas. O Santo Padre João Paulo
2º presidiu os funerais na basílica de
São Pedro, na quarta-feira, expressando a sua profunda amizade a d. Lucas,
a quem muito estimava e a quem considerava um dos seus mais queridos
cooperadores. Na ocasião, João Paulo
2º invocou do Altíssimo a paz e o conforto espiritual em sufrágio de sua alma, as sinceras condolências aos
membros da família, pedindo a Deus
Todo-Poderoso que recompense
abundantemente esse fiel servidor da
Igreja no Brasil e da Sé Apostólica. Eis
o mais belo elogio ao nosso caro d. Lucas, proclamado pelo Papa: "fiel servidor da Igreja". Todos os que o conhecemos, desde os primeiros anos de sua
vida sacerdotal e religiosa até o cardinalato e as muitas missões recebidas,
podemos, com efeito, constatar seu
incondicional amor à Igreja e o seu devotamento pessoal aos papas Paulo 6º
e João Paulo 2º.
Tive a oportunidade de participar
em Roma da sua elevação ao cardinalato (em 28/6/88) e percebi o vínculo
recíproco de confiança em d. Lucas
por parte de João Paulo 2º e o intenso
afeto pela devoção de seu colaborador
em difíceis tarefas assumidas a serviço
do Santo Padre.
Nos últimos anos, após ter renunciado, por motivo de saúde, ao importante cargo de Prefeito da Congregação dos Bispos, sentia grande consolação em colaborar como consultor das
Congregações Romanas. Residia no
Vaticano e, de seu quarto, podia contemplar a janela dos aposentos pontifícios. Dali, muitas vezes elevava as
suas preces, pedindo a Deus as bênçãos para o Santo Padre.
Dom Lucas unia a sensibilidade artística e musical e a sólida formação
teológica ao dom da palavra, ao discernimento espiritual e ao empenho a
serviço da evangelização.
Ao ser nomeado arcebispo de Salvador da Bahia e primaz do Brasil (1987),
sabia que iniciava uma fase nova de
sua vida. Deixava Roma, onde atuara
durante 13 anos, para dedicar-se a Salvador. Pouco a pouco, foi-se identificando com a beleza cultural e com a
simpatia do povo baiano e foi dando
sempre mais provas de total dedicação à sua missão de pastor. Mesmo inserido nos usos e costumes e na ação
pastoral na Bahia, d. Lucas continuava, como diz o seu lema, "vigilante
desde a aurora", atento aos sinais dos
tempos e às necessidades da Igreja e
do mundo, como percebemos na sua
atuação nos dicastérios e nos sínodos
romanos, na presidência da CNBB e
no zelo pela América Latina.
Entre as muitas virtudes de d. Lucas,
permito-me lembrar a sua devoção a
Nossa Senhora, o seu constante empenho pastoral pelo laicato, pela vida religiosa e pelos jovens e, de modo muito peculiar, a sua preocupação com o
nível moral dos meios de comunicação social.
É, certamente, com muito afeto e carinho que o povo baiano acolhe agora
o corpo de seu arcebispo emérito na
catedral basílica. A solene liturgia será
realizada em 16/9, na segunda-feira,
data de seu 77º aniversário.
Dom Lucas tornou-se, em Roma,
mais um homem de visão sobre o
mundo e o Reino de Deus, mas conservou sempre a simplicidade amiga
do mineiro nascido em São João Del-Rei e demonstrou que seu amor de
pastor soube, em poucos anos, conquistar o coração do querido povo
baiano.
Sua vida, fecunda em merecimentos, é, para todos nós, um dom de
Deus.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Ode à pipoca Próximo Texto: Frases
Índice
|