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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Muito além das tartarugas

CANCÚN - No começo da noite de anteontem, um jovem foi entrando pelo Centro de Convenções de Cancún, QG da conferência ministerial da Organização Mundial do Comércio, arrastando por uma corda um boneco na forma de tartaruga. No peito, um cartaz tosco pedia: "Salvem as tartarugas marinhas, não a OMC".
Foi a festa para fotógrafos e cinegrafistas. Compreensível, aliás. A causa é nobre e a imagem era boa, ao contrário do tédio imagético que representam as reuniões de um bando de marmanjos (e umas poucas mulheres) que discutem temas não exatamente emocionantes.
A festa dos caçadores de imagem esconde, no entanto, parte muito relevante da realidade das Organizações Não-Governamentais.
Elas se transformaram, decididamente, em personagens relevantes da cena internacional, menos pelo ruído que fazem e pelas imagens que produzem e mais pela formidável capacidade de se aprofundar na discussão de temas que os partidos políticos mal roçam e que os governos dos países em desenvolvimento não raro não têm capacidade financeira para, eles também, irem a fundo.
É em grande parte graças a esse heterogêneo conglomerado que os países muito pobres estão se equipando para participar das discussões na OMC de uma forma de fato ativa.
"Os países africanos já estavam mais preparados na 4ª Conferência Ministerial da OMC do que na 3ª e, nesta 5ª reunião, mais ainda", diz Michael Bailey, diretor da Oxfam, ONG de origem britânica, referência internacional em muitos temas.
Bailey foi importante na batalha para extrair uma declaração pela qual os países da OMC reconhecem que a saúde pública tem prioridade sobre as patentes.
Mesmo no Brasil, as ONGs estão avançando muito além do imagético: pela primeira vez, quatro representantes delas fazem parte oficial da delegação. Ficam, portanto, do lado de dentro da organização que demonizavam (e sobre a qual ainda têm sérias restrições).



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