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ELIANE CANTANHÊDE
Desideologizando
BRASÍLIA - Delfim Netto (PP), Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp), José
Alexandre Scheinkman (Princeton) e
Gildo Marçal Brandão (USP) passaram três horas papeando na sexta-feira. Pasme! Ninguém falou mal de
Lula, nem do governo, nem do PT.
Para um observador mudo, como
eu, ficou claro que a "desideologização" ajuda muito o governo petista.
Apesar das diferenças de passado e
de estilo, os quatro fizeram avaliações bem parecidas sobre o processo.
Para Delfim, tudo está sendo feito
direitinho para garantir um crescimento de 3,5% a 4% no quatro trimestre de 2004. Não é nenhuma maravilha, mas é melhor do que nada.
Ele enumerou: apesar do discurso,
as agências reguladoras estão prestigiadas; os contratos são cumpridos; a
lei de falências deve passar; a prorrogação da CPMF deu quatro anos para o governo promover uma "reforma tributária decente"; os bens de capital estão sendo desonerados e... o
governo Lula está "domesticando"
sem alarde o MST. Como? Se invadir
terra produtiva, ela sai do cadastro
de desapropriações.
As principais providências também
obtiveram formidável convergência.
Belluzzo: a infra-estrutura brasileira
não suporta um crescimento minimamente ousado. Brandão: a crise
metropolitana é a grande ameaça.
Scheinkman, falando dos EUA por
videoconferência: a Embrapa é um
show, mas a política científica e tecnológica, um desastre. Delfim: "O Estado tem de devolver a capacidade de
competição da indústria brasileira".
Todos concordaram com todos.
Se alguém pareceu na berlinda foi o
governo... mas o governo de FHC e
Malan. Abertura financeira desastrosa, erro na política cambial, vulnerabilidade externa. O de sempre.
Em tempo: os quatro emprestaram
horas e brilho para um documento
que a CNI usará como apoio -ou
provocação- para encontros e seminários da indústria. Tema: "Os desafios do crescimento".
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