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São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Desideologizando

BRASÍLIA - Delfim Netto (PP), Luiz Gonzaga Belluzzo (Unicamp), José Alexandre Scheinkman (Princeton) e Gildo Marçal Brandão (USP) passaram três horas papeando na sexta-feira. Pasme! Ninguém falou mal de Lula, nem do governo, nem do PT.
Para um observador mudo, como eu, ficou claro que a "desideologização" ajuda muito o governo petista. Apesar das diferenças de passado e de estilo, os quatro fizeram avaliações bem parecidas sobre o processo.
Para Delfim, tudo está sendo feito direitinho para garantir um crescimento de 3,5% a 4% no quatro trimestre de 2004. Não é nenhuma maravilha, mas é melhor do que nada.
Ele enumerou: apesar do discurso, as agências reguladoras estão prestigiadas; os contratos são cumpridos; a lei de falências deve passar; a prorrogação da CPMF deu quatro anos para o governo promover uma "reforma tributária decente"; os bens de capital estão sendo desonerados e... o governo Lula está "domesticando" sem alarde o MST. Como? Se invadir terra produtiva, ela sai do cadastro de desapropriações.
As principais providências também obtiveram formidável convergência. Belluzzo: a infra-estrutura brasileira não suporta um crescimento minimamente ousado. Brandão: a crise metropolitana é a grande ameaça. Scheinkman, falando dos EUA por videoconferência: a Embrapa é um show, mas a política científica e tecnológica, um desastre. Delfim: "O Estado tem de devolver a capacidade de competição da indústria brasileira". Todos concordaram com todos.
Se alguém pareceu na berlinda foi o governo... mas o governo de FHC e Malan. Abertura financeira desastrosa, erro na política cambial, vulnerabilidade externa. O de sempre.
Em tempo: os quatro emprestaram horas e brilho para um documento que a CNI usará como apoio -ou provocação- para encontros e seminários da indústria. Tema: "Os desafios do crescimento".



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