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Pacote habitacional
Juros prefixados se destacam no tímido conjunto de medidas federais para estimular aquisição da casa própria
CAMINHAM NO sentido
correto, mas são muito
tímidas, as medidas
anunciadas anteontem
pelo governo federal para estimular a construção de novas habitações. A menos de 20 dias da
eleição, o pacote também representa um afago nas fatias de
maior renda, setor do eleitorado
em que Luiz Inácio Lula da Silva
colhe o seu pior desempenho.
Seis em cada dez famílias brasileiras -aquelas que passam o
mês com menos de cinco salários
mínimos- estão fora do escopo
das novas iniciativas federais. As
políticas habitacionais para a
baixa renda, segmento em que se
concentra o problema do déficit
de residências, dependem de
subsídios públicos e estão emperradas por conta da asfixia financeira do Estado.
Apesar de ser minoritário como parcela da população, o setor
a que se destina o pacote habitacional do governo tem escala suficiente para sustentar um mercado imobiliário digno do nome.
A inflação elevada, até 1994, e as
agruras e os custos da estabilização financeira desde então -altas taxas de juros e de desemprego, volatilidade na renda- têm
impedido o desenvolvimento
desse importante segmento.
A medida de impacto mais
imediato, entre as anunciadas na
terça-feira, é a que permite o financiamento de imóveis a taxas
de juros prefixadas. Até então,
para um banco poder emprestar
recursos captados na caderneta
de poupança era obrigatória a
utilização da TR (Taxa Referencial) como indexador. O dispositivo, uma correção monetária,
torna as parcelas do empréstimo
variáveis ao longo do contrato.
Foi estabelecido um teto para
os juros prefixados de 12% ao
ano mais o valor da TR na data do
contrato (hoje em torno de 2%
ao ano). Bancos que vinham trabalhando com taxas acima desse
limite superior devem reduzi-las
para poder usufruir da captação
da poupança. E há estímulos adicionais para que as instituições
baixem suas taxas.
Essa medida -somada a outras, como a inclusão do financiamento habitacional no crédito com desconto em folha de pagamento- produzirá, no entanto, um efeito inicial diminuto no
desenvolvimento do mercado
imobiliário. Com o tempo, a persistência do ambiente de inflação baixa e previsível e de juros
básicos cadentes tenderá a incrementar seu impacto.
O governo teria aumentado a
importância do pacote se nele
houvesse incluído a faculdade de
o mutuário trocar de credor, sem
custo, sempre que encontrasse
uma instituição oferecendo melhores condições de financiamento. Seria o embrião de um
sistema, como há nos EUA, de livre negociação de taxas que, ao
desenvolver-se, tornaria obsoleta a discussão sobre juros prefixados e tetos para os encargos.
A persistir, o cenário de Selic
em queda e preços contidos logo
trará de volta essa e outras questões. Quanto mais o rendimento
dos títulos públicos se aproximar
do oferecido pela caderneta de
poupança, mais necessária -e
espinhosa- será a discussão sobre como lançar as bases de um
mercado imobiliário moderno e
eficiente no Brasil.
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