|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Como na cartilha
OS INDÍCIOS de uso da máquina pública para fins
partidários não se esgotam no enredo do mensalão. A
distribuição de material publicitário do governo por diretórios
municipais do Partido dos Trabalhadores, revelada pela revista
"Veja", reforça as inquietações a
respeito dos desvios éticos da administração federal.
Em nota, anteontem, o PT admitiu ter recebido e distribuído
929.940 exemplares de cartilhas
e encartes com propaganda do
governo e críticas à gestão anterior. O material foi produzido
por encomenda da Secretaria de
Comunicação (Secom), subordinada diretamente à Presidência.
Por lei, teria de ser entregue à
própria secretaria ou a outro órgão público. Jamais aos diretórios de um partido político.
Há agravantes. O Tribunal de
Contas da União (TCU) solicitou
a abertura de um processo para
apurar os detalhes do caso. O relatório foi aprovado ontem, mas
a iniciativa -uma atribuição do
tribunal- esbarrou em resistências internas. A pedido do ministro Marcos Vilaça, a votação do
texto do relator foi suspensa antes mesmo da discussão. Felizmente, o lobby fracassou.
Espera-se que a investigação
seja minuciosa. Mais uma vez a
gestão Lula confunde propaganda oficial -instrumento legítimo
de comunicação- com interesses partidários. A recente multa
aplicada pelo TSE ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, relativa
justamente a uso indevido da
máquina em folhetos distribuídos pela Secom, revela que a
miopia persiste no governo.
O episódio denota incapacidade de reconhecer os limites que a
República impõe entre interesses do Estado e interesses de um
partido. Quando falta tal discernimento ao governante de turno,
é preciso que as instituições incumbidas de controlar o Executivo entrem em cena, como faz o
TCU no caso das cartilhas.
Texto Anterior: Editoriais: Pacote habitacional Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: A crise chama-se Geraldo Índice
|