São Paulo, quinta-feira, 14 de setembro de 2006

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Ainda a torre do Masp

ADIB D. JATENE

Que não se percam contribuições tão valiosas e capazes de resolver os problemas financeiros de que o museu padece

NO DIA 24/2, publiquei artigo neste espaço sobre a torre do Masp contrapondo argumentos à decisão do Conpresp (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), que vetou a construção de tal torre.
Não houve então, da parte do professor Lefèvre, presidente daquele conselho, nenhuma manifestação, a qual só veio depois que publiquei outro artigo, no dia 12/7. O professor fazia referência às restrições que ocorreram à época da construção da torre Eiffel. Assinalava que, se existisse um órgão com poder de veto, talvez a torre não tivesse sido construída.
Entendo que essa referência tenha levado Lefèvre a me honrar com a réplica, o que me obriga, pelo respeito que sua figura merece, a corrigir alguns detalhes que, sem contestação, poderiam parecer verdadeiros e desqualificar minhas colocações.
Em primeiro lugar, ficou difícil entender a oposição de que a torre descaracterizaria o bem tombado (o edifício sede do museu) e, ao mesmo tempo, a concordância com a substituição do edifício Dumont-Adams por um outro de proporções equivalentes aos demais existentes na avenida Paulista, com seus edifícios de mais de 100 metros de altura e antenas que ultrapassam os 200 metros.
Em segundo lugar, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), em setembro de 2004, tombou o edifício-sede do Masp, estabelecendo como limite de sua abrangência a área compreendida nas vias circundantes e liberando textualmente de qualquer restrição todos os lotes particulares localizados nas faces opostas dessas vias. Por consulta específica do Masp sobre as restrições, o referido instituto confirmou inexistirem restrições de altura, de volumetria ou de acabamentos externos em relação à realização de obras dentro dos limites do lote indicado.
Em terceiro lugar, quanto à sugestão de não audiência do plenário do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico), com a aprovação só do presidente, cabe um comentário, pois fica implícita a idéia de que a ele faltariam poderes para tal aprovação, o que não é verdade. Quatro meses depois da referida aprovação, o plenário do órgão apreciou e aprovou a construção de uma antena sobre a cobertura da torre que o Masp pretende construir, o que, obviamente, significa que o plenário homologou a aprovação do presidente do órgão.
Importa salientar que, na audiência que o Conpresp concedeu à diretoria do Masp quando o assunto da antena foi abordado, o presidente do Masp não "negou a existência de tal projeto", mas comunicou que a direção do museu havia decidido desistir em definitivo da colocação da antena.
Em quarto lugar, em nenhum momento a direção do Masp afirmou que a operação do mirante "pagaria a construção da torre". O que sempre se disse foi que não só a aquisição do prédio localizado na quadra vizinha ao museu mas também a reforma para abrigar a parte administrativa, a escola de arte do museu e a construção da torre já tinham patrocínios da iniciativa privada, sem recorrer à Lei Rouanet ou a qualquer tipo de incentivo fiscal, da ordem de R$ 20 milhões, algo inédito na área da cultura -e estamos fazendo todo o esforço para não perder doações de tal monta.
Assim que terminar, a operação do mirante, aplaudido pela área do turismo, bem como a reforma do prédio para abrigar a escola de arte no edifício, além de não causar nenhum dispêndio financeiro por parte da Masp, deverá gerar receitas para o museu, as quais serão destinadas à manutenção de suas atuais e futuras necessidades. Não posso deixar de me referir ao trecho destacado pelo editor: "O que diriam os parisienses se, por hipótese, a torre Eiffel mudasse seu nome para Eiffel-Telecom, com um enorme anúncio luminoso?". Não consegui evitar a idéia de que talvez essa fosse a principal preocupação de Lefèvre e seus companheiros do Conpresp.
Tal comparação, no meu entendimento, não cabe, pois, no caso, não estamos propondo obras sobre bens tombados, como são o edifício-sede do Masp e a torre Eiffel, mas apenas a construção de uma torre sobre um edifício não tombado, pertencente ao Masp e que poderia estar localizado em qualquer ponto da av. Paulista.
Para concluir, reitero que minha manifestação representa o direito ao contraditório, com o maior respeito por opiniões que não coincidam com a minha, e um apelo para que, em período tão difícil para a captação de recursos, não se percam contribuições tão valiosas e capazes de resolver os problemas financeiros de que o museu vem padecendo há muito tempo, bem como a adequação dos espaços e a expansão de suas atividades.


ADIB D. JATENE, 77, cardiologista, professor emérito da Faculdade de Medicina da USP, é presidente do Conselho Deliberativo do Masp.

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