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RICARDO MELO
E agora, José?
SÃO PAULO - A pior notícia para a
oposição, nesses dias de setembro,
não veio da chuva que escancarou a
desorientação dos governos paulista e paulistano para enfrentar fenômenos tão previsíveis quanto devastadores nas suas consequências
para a população. Tampouco partiu
do Rio Grande do Sul, onde uma governadora tucana sangra em praça
pública acusada de tratar o dinheiro
público e o privado como frutas de
um só cacho.
A pior notícia para as pretensões
oposicionistas saiu das planilhas do
IBGE, ao sacramentarem algo de
que já se suspeitava. Depois de ensaiar uma queda livre, a economia
brasileira dá sinais de vitalidade e
capacidade de recuperação das
quais, diga-se de passagem, nem o
próprio governo desconfiava. Os
números informam que acabou a
tal "recessão técnica", o consumo
manteve o crescimento e a indústria começa a se recuperar.
Para fins eleitorais, o realismo
político indica que pouco importa
se o principal vetor dessa recuperação foram medidas internas de estímulo, ou o impulso às nossas exportações mantido pelos países onde a
crise teve menor intensidade (ou
ainda a combinação disto com mais
alguma coisa, cuja explicação deixo
para os economistas que previam
que o mundo ia acabar e agora dizem que não era bem assim).
Ninguém duvida: o Planalto vai
tocar o bumbo e reciclar o discurso
da marolinha que, é bom lembrar, o
próprio governo abandonara quando o horizonte escureceu. O barulho provavelmente irá abafar ainda
mais, por exemplo, coisas como a
conivência com os desmandos no
Senado, ou a aliança mal explicada
de uma empreiteira com a concorrência militar internacional.
À oposição, que na falta de programa próprio apostava na crise para ganhar musculatura, não resta
outra saída exceto providenciar algum discurso. Deixem-se de lado
pesquisas feitas com tanta antecedência. Do jeito que as coisas estão
postas, parece mais fácil eleger até
quem bisbilhota extratos de caseiros do que ver algum José subindo a
rampa do Planalto.
ricardo.melo@grupofolha.com.br
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