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MARINA SILVA
Eleição, internet e borboletas
ELEIÇÃO É sempre uma grande oportunidade de reafirmar
a democracia. E as regras eleitorais são o primeiro passo para garantir que os processos democráticos sejam transparentes, precisos,
confiáveis, informados e coerentes
com a vontade popular. Alterá-las
deveria significar, sempre, torná-las mais modernas, inteligentes e
aptas a realizar o objetivo de chegar a uma sociedade democrática
avançada, regida por regras universais e avessa ao patrimonialismo.
O Congresso brasileiro está hoje
às voltas com a apressada análise
-em consequência dos prazos
constitucionais- de uma reforma
na legislação eleitoral que poderá
valer já em 2010. O texto básico foi
aprovado, mas o Senado terá que
votar nesta semana as emendas para depois remetê-lo de volta à Câmara dos Deputados, que o enviará
à sanção do presidente Lula. Tudo
até o dia 3 de outubro.
São muitos os pontos polêmicos.
Além de não exigir divulgação dos
nomes de todos os doadores e valores doados, a reforma, até agora,
mantém a "doação oculta", em que
recursos vão para os partidos, que
os repassam a candidatos sem a necessária identificação do vínculo
entre doador e beneficiário.
Ainda é possível aprovar a emenda do senador Aloizio Mercadante
que garante internet totalmente livre, antes, durante e depois das
eleições. Nada de amarras, de tentativas de tolher a revolução na comunicação que a internet representa, com ampla liberdade e espaço para a conscientização, a mobilização e a pressão da sociedade.
Restringir a internet, como se
fosse só mais um canal de comunicação nas relações entre mídia e
sistema político, é desconsiderar
que ela é estruturalmente diferente. É a maior ferramenta daquilo
que o sociólogo espanhol Manuel
Castells chamou de sociedade em
rede, tornada possível pela expansão das tecnologias de informação.
Essa estrutura de redes tem sido
decisiva para potencializar ações
coletivas, que podem ganhar maior
espaço nas eleições, interferindo
diretamente na qualidade das escolhas políticas, por meio de iniciativas autônomas da sociedade.
Na internet, o fazer político é
multicêntrico, não há senhores.
Nela, a expansão política se dá no
sentido oposto ao de um modelo
autoritário ou dirigido, pois fica
longe de controles, monopólios e
centralização.
Uma reforma política democrática não pode, sob nenhum pretexto, tentar tolher essa livre manifestação. Insistir nisso é retrocesso
grave -além de ser, provavelmente, tarefa impossível. Como tentar
capturar num único puçá uma revoada de milhões de borboletas.
contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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