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Hora da verdade
Derrocada da Grécia, à beira do calote, exige mudança de atitude das autoridades europeias, que precisam se articular para estancar a crise
A Europa se aproxima do momento da verdade. O colapso econômico da Grécia torna cada vez
mais insustentável a atitude das
autoridades de empurrar o problema para a frente, com deliberações paliativas.
O fato é que a Grécia está insolvente, com dívida superior a 150%
do PIB. Mesmo o novo programa
de ajuda, aprovado em julho por
União Europeia, FMI e Banco Central Europeu, já se mostra insuficiente. Não por falta de vontade
do governo grego, mas pela impossibilidade de restaurar a saúde
orçamentária em meio a uma recessão que se aprofunda. O PIB da
Grécia pode cair 5% neste ano,
contra a projeção, feita no programa de socorro, de "apenas" 3,8%.
As autoridades já parecem considerar inevitável uma reestruturação. Fazê-la de modo controlado passou a ser o grande desafio, a
julgar pelas palavras da chanceler
alemã, Angela Merkel, de que não
permitirá um "efeito dominó". A
insolvência grega pôs a nu a insuficiência das instituições europeias para lidar com os desequilíbrios acumulados desde a adoção
da moeda comum.
Planos de austeridade não mais
convencem o mercado financeiro.
Os juros cobrados da Espanha e
da Itália bateram novos recordes,
e a França já paga prêmio acima
do cobrado de países periféricos
para rolar sua dívida.
As dívidas interligadas de governos e bancos são outro elemento que ameaça complicar a situação. Como os mercados confiam
menos na Itália, endurecem o crédito aos bancos italianos. Como os
bancos franceses detêm quase
300 bilhões em dívidas italianas,
também são apertados. O problema recai no governo francês, que
teria de capitalizar seus bancos,
comprometendo seu próprio crédito. Tem-se aí o risco do dominó.
Enquanto não se viabiliza uma
intervenção abrangente, incluindo mecanismos mais profundos
de unificação orçamentária, a única instituição capaz de amortecer
os golpes da crise é o BC europeu.
O banco tem comprado papéis
espanhóis e italianos, sem o que
haveria paralisia. Mas também
são fortes as objeções a essa política -o presidente do Bundesbank
(BC alemão) se opõe a essa opção,
e a renúncia nesta semana de
Juergen Stark, membro alemão do
comitê decisório do BCE, mostra
quão profunda é a divisão.
Nas próximas duas semanas, os
parlamentos europeus estarão debruçados sobre projetos que conferem novos poderes ao fundo de
estabilização, incluindo a capitalização dos bancos. Deve haver
um movimento forte para evitar o
contágio grego. Mas não se sabe se
a velocidade dos políticos -e sua
compreensão dos fatos- será suficiente para estancar a crise.
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