São Paulo, quarta-feira, 14 de setembro de 2011

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Hora da verdade

Derrocada da Grécia, à beira do calote, exige mudança de atitude das autoridades europeias, que precisam se articular para estancar a crise

A Europa se aproxima do momento da verdade. O colapso econômico da Grécia torna cada vez mais insustentável a atitude das autoridades de empurrar o problema para a frente, com deliberações paliativas.
O fato é que a Grécia está insolvente, com dívida superior a 150% do PIB. Mesmo o novo programa de ajuda, aprovado em julho por União Europeia, FMI e Banco Central Europeu, já se mostra insuficiente. Não por falta de vontade do governo grego, mas pela impossibilidade de restaurar a saúde orçamentária em meio a uma recessão que se aprofunda. O PIB da Grécia pode cair 5% neste ano, contra a projeção, feita no programa de socorro, de "apenas" 3,8%.
As autoridades já parecem considerar inevitável uma reestruturação. Fazê-la de modo controlado passou a ser o grande desafio, a julgar pelas palavras da chanceler alemã, Angela Merkel, de que não permitirá um "efeito dominó". A insolvência grega pôs a nu a insuficiência das instituições europeias para lidar com os desequilíbrios acumulados desde a adoção da moeda comum.
Planos de austeridade não mais convencem o mercado financeiro. Os juros cobrados da Espanha e da Itália bateram novos recordes, e a França já paga prêmio acima do cobrado de países periféricos para rolar sua dívida.
As dívidas interligadas de governos e bancos são outro elemento que ameaça complicar a situação. Como os mercados confiam menos na Itália, endurecem o crédito aos bancos italianos. Como os bancos franceses detêm quase 300 bilhões em dívidas italianas, também são apertados. O problema recai no governo francês, que teria de capitalizar seus bancos, comprometendo seu próprio crédito. Tem-se aí o risco do dominó.
Enquanto não se viabiliza uma intervenção abrangente, incluindo mecanismos mais profundos de unificação orçamentária, a única instituição capaz de amortecer os golpes da crise é o BC europeu.
O banco tem comprado papéis espanhóis e italianos, sem o que haveria paralisia. Mas também são fortes as objeções a essa política -o presidente do Bundesbank (BC alemão) se opõe a essa opção, e a renúncia nesta semana de Juergen Stark, membro alemão do comitê decisório do BCE, mostra quão profunda é a divisão.
Nas próximas duas semanas, os parlamentos europeus estarão debruçados sobre projetos que conferem novos poderes ao fundo de estabilização, incluindo a capitalização dos bancos. Deve haver um movimento forte para evitar o contágio grego. Mas não se sabe se a velocidade dos políticos -e sua compreensão dos fatos- será suficiente para estancar a crise.


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