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Sem remédio
Como efeito colateral da crescente exposição de pacientes a
uma ampla gama de medicamentos, torna-se cada vez mais frequente que fármacos testados e
indicados para certo tipo de moléstia se revelem benéficos no
combate a problemas distintos,
que não haviam motivado o desenvolvimento original da droga.
É bem-vinda a descoberta de
que um colírio contra glaucoma,
por exemplo, possa ter efeitos terapêuticos em portadores de vitiligo; ou de que antidepressivos
contribuam para combater tabagismo ou dor crônica.
No mais recente caso de prescrição alternativa, um remédio lançado em 2009 para o tratamento
do diabetes tipo 2 tem sido usado,
com sucesso, como emagrecedor.
A liraglutina, vendida sob o nome
comercial de Victoza, atua no cérebro e no trato digestivo, reduz a
fome e aumenta a sensação de saciedade. Permite, assim, a perda
de peso sem grandes sacrifícios.
Tamanha promessa de bem-estar fez com que muitos médicos e
pacientes abandonassem a necessária cautela na indicação e no
uso de tratamento ainda experimental -uma vez que os riscos à
saúde dele decorrentes ainda não
foram devidamente testados. A
substância, cujas injeções custam
cerca de R$ 500 por mês, já está
em falta em farmácias.
Enquanto não se concluem novos estudos sobre os riscos e os benefícios de tratamentos alternativos, agências de vigilância sanitária nos EUA, na Europa e no Brasil
costumam conceder algum grau
de discricionariedade aos médicos no chamado uso "off-label"
-aquele que não está previsto em
bula- dos medicamentos.
Esse tipo de prescrição se justifica -pois não raro reverte em benefícios importantes-, desde que
ela seja criteriosa. Nem sempre
tem sido este o caso no uso recente
da liraglutina no Brasil. Fez bem a
Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), portanto, ao
emitir um alerta sobre os riscos de
seu consumo para outros fins que
não o do combate ao diabetes.
Feito o alerta público, é de esperar que médicos que administram
o tratamento de maneira indiscriminada sejam responsabilizados,
no futuro, caso se constatem prejuízos à saúde de seus pacientes.
Mas a cautela deveria guiar, sobretudo, as escolhas das pessoas
que buscam soluções imediatistas
para problemas de saúde -em especial para aqueles que não conotam urgência.
Um pouco de paciência para
aguardar resultados de novas pesquisas pode evitar que se tornem,
elas próprias, cobaias humanas.
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