São Paulo, segunda-feira, 14 de outubro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

E se o Palmeiras for campeão?

SÃO PAULO - Quem lê os detalhes da pesquisa Datafolha fica a pensar que é mais fácil o trágico Palmeiras vencer o campeonato brasileiro numa final contra o meu infeliz Flamengo do que José Serra (PSDB) bater Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Serra, de resto, é palmeirense.
A campanha recomeça apenas hoje, certo, mas parece que Serra entra em campo com três jogadores a menos. Consideradas as categorias em que o Datafolha divide a população, o tucano só vence entre aqueles para quem o governo FHC é ótimo/bom (só 23% do eleitorado) e entre os tucanos (4% do total). Não importa renda, instrução, sexo, interior ou capital. Lula vence em todos os casos.
Serra precisa de vasta migração de votos. No mínimo, precisa de que um número de eleitores equivalente a duas vezes a população da cidade do Rio de Janeiro deixe de votar no petista. Mas, logo de cara, 7% dos serristas mudaram para Lula (só 3% dos lulistas fizeram o inverso).
O apoio de FHC a Serra só deve prejudicar o tucano, a julgar pelo Datafolha: deve fazer com que a distância de Lula para o tucano cresça ainda mais. A herança do primeiro turno também é pesada para Serra. O tucano e o petista vão dividir meio a meio o espólio eleitoral de Anthony Garotinho e Ciro Gomes. De onde Serra vai tirar os votos para cobrir a distância para o petista?
Entre os lulistas de primeira hora, 77% dizem que não mudam o voto por causa de um debate. Tanto no eleitorado de Garotinho como no de Ciro, 40% podem rever o voto. É razoável supor que, desses eleitores que podem repensar sua escolha, metade é Lula, metade é Serra. Pois bem. Caso TODOS os eleitores de Lula, Garotinho e Ciro que deixaram a porta aberta para a mudança optem por Serra e NENHUM serrista mude de idéia, Serra teria uns 52% dos votos. A depender dos debates, parece que o PSDB terá de achar um cadáver muito feio no armário de Lula.
Como diz o Clóvis Rossi, lógica e eleição costumam se estranhar na América Latina. Mas Serra, hoje, depende de um surto de absurdo para chegar ao governo em 2003.



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