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Debate nos trilhos
A PROPOSTA de uma nova ligação entre as duas principais metrópoles brasileiras, Rio e São Paulo, desperta
fundadas objeções. Lançado pelo
governo federal, o projeto da
construção do trem-bala - linha
ferroviária de 511 km- estima
seu custo em R$ 35 bilhões. Segundo empresas interessadas, o
valor ultrapassará R$ 50 bilhões.
A estimativa oficial é de tal maneira vultosa -supera todos os
desembolsos federais em investimentos no ano passado- que
obrigou o governo a alterar o modelo de financiamento público.
Inicialmente seria do BNDES a
incumbência de emprestar R$
20 bilhões ao vencedor da licitação -que o governo quer realizar
ainda neste ano. Agora, como noticiou esta Folha, o Planalto decidiu que o Tesouro assumirá o
financiamento. O banco não poderia fazer um empréstimo único dessa magnitude sem prejudicar seus indicadores que medem
o risco de insolvência.
Até porque tantos bilhões estão em jogo, o trem-bala é uma
iniciativa controversa. Com 8,5
milhões de km 2, o Brasil possui
uma malha ferroviária de cerca
de 30 mil km. A Argentina, com
dois terços a menos de território,
dispõe de uma rede de 35 mil km
de trilhos. Em vez de gastar R$
35 bilhões em um único projeto,
não faria mais sentido distribuir
os investimentos para expandir
a malha como um todo?
Cabe ainda ponderar que tanto
São Paulo quanto o Rio dispõem
de redes de metrô insuficientes
para o tamanho de suas populações. Com a estimativa conservadora divulgada pelo governo
federal para o trem-bala, seria
possível multiplicar por 2,4 os 61
km do metrô paulistano.
Os defensores do trem-bala
ainda precisam convencer a sociedade, que inadvertidamente
está sendo convocada a financiá-lo, da conveniência de um projeto que parece faraônico diante
de tantas carências mais básicas
na infraestrutura.
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