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Debate mais claro
O segundo turno já contribui para o melhor conhecimento dos candidatos à Presidência, que todavia ainda se omitem sobre temas importantes
Decorridos 11 dias desde a realização do primeiro turno, parece
difícil a alguém contestar seriamente a utilidade do segundo turno para a disputa em curso pela
Presidência da República.
Com a nova etapa -exigida
quando nenhum candidato obtém
mais de 50% dos votos válidos-
renova-se, para a sociedade, a
ocasião de conhecer melhor as
propostas, as prioridades e os estilos de cada candidato.
Ficam ambos, Dilma Rousseff e
José Serra, mais expostos à controvérsia, o que é sempre salutar
numa democracia e, mais ainda,
quando a postulante favorita é figura pouco conhecida, que jamais
havia disputado qualquer cargo
eletivo antes de ter sido apontada
pelo dedo do presidente Lula.
O primeiro debate do segundo
turno a colocar frente a frente os
adversários, realizado no último
domingo, pela Rede Bandeirantes, resultou num grau de enfrentamento inédito entre Dilma e Serra, coisa que ambos, e sobretudo a
petista, haviam tentado contornar
ao longo da campanha. Em relação aos debates do primeiro turno, houve algum avanço.
É de lamentar, no entanto, que
tais ocasiões de duelo político ainda sejam manietadas por regras
que engessam o debate e impedem uma discussão mais aberta.
Há, em primeiro lugar, toda a
parafernália dos marqueteiros,
que busca monitorar os candidatos e as reações do público ao que
dizem como se estivessem todos
num laboratório, o que pasteuriza
e não raro idiotiza a política.
Mas há, além disso, em todos os
debates, restrições incabíveis à
participação dos jornalistas, impedidos, por exemplo, por imposição das candidaturas, de fazer réplicas às questões que formulam
depois de ouvir as respostas. É a
sociedade quem perde com isso.
Estamos a pouco mais de duas
semanas da eleição do futuro presidente e restam muitos pontos
fundamentais para o país que não
mereceram a devida atenção por
parte de Dilma e de Serra.
Entre eles, o silêncio sintomático dos candidatos sobre temas espinhosos da macroeconomia talvez seja o mais preocupante.
Como escreveu ontem, em sua
coluna, o jornalista Elio Gaspari,
"o dólar está a R$ 1,66 e a palavra
câmbio não foi pronunciada".
Enquanto os candidatos fingem
ignorar a existência do problema,
o deficit nas transações de bens e
serviços com o exterior, provocado pela apreciação do real, continua a crescer. O que farão sobre isso Dilma e Serra? Ninguém sabe
ao certo.
Espera-se que os próximos debates possam elucidar esse e outros aspectos, inclusive a respeito
de promessas cuja viabilidade de
execução não ficou clara. Serra
precisaria explicar, por exemplo,
como pretende elevar o salário mínimo para R$ 600 e aumentar em
10% as aposentadorias com valor
superior ao mínimo sem, ao mesmo tempo, colocar em sério risco
as contas públicas.
A Dilma, cuja campanha tem sido mais celebratória do que centrada em propostas factíveis, cumpriria esclarecer como executará
em quatro anos a promessa de "erradicar a miséria", situação em
que se encontram cerca de 21 milhões de brasileiros.
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