São Paulo, quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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Editoriais

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Ética e pesquisa

Pesquisas clínicas, um requisito para desenvolver e licenciar novos fármacos e tratamentos, tornaram-se um fator decisivo para estabelecer uma indústria farmacêutica inovadora. Tais estudos -que podem envolver milhares de pacientes e voluntários- constituem também uma atraente fonte de receita para profissionais e instituições de pesquisa.
Em que pesem algumas vantagens comparativas, esse mercado engatinha no Brasil, como assinalou em entrevista à Folha Antônio Britto, presidente-executivo da Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa). Em 2009, a entidade já havia alertado que só 1,6% das pesquisas clínicas ocorrem no país.
O Brasil conta com uma riqueza valorizada pela indústria: diversidade. Com cerca de dois terços da população dos EUA, onde se realizam 63% dos testes, o país recebeu também várias etnias, mas comportou mais miscigenação. Resultados aqui obtidos seriam em princípio válidos para boa parte do mundo. Há mais: o país possui uma comunidade científica capacitada e pode realizar os testes com custo mais baixo.
Um dos problemas, segundo a Interfarma, está na morosidade da aprovação dos protocolos por órgãos como a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). Enquanto nos EUA isso ocorre em média em sete meses, por aqui pode demorar mais de um ano.
Em consequência, a comunidade científica nacional fica com as migalhas de um mercado global de R$ 50 bilhões anuais. Entre as razões comumente apresentadas pela Conep para não imprimir maior celeridade ao processo está a impossibilidade de um voluntário brasileiro compreender os termos técnicos dos formulários de consentimento.
A cautela não pode confundir-se com procrastinação. Indústria e Ministério da Saúde já debatem como aperfeiçoar o sistema. Se persistem falhas de estrutura e agilidade no processo de licenciamento, aí deve recair o foco da discussão, no interesse de todos -indústria, cientistas e pacientes.


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