São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011

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Sinal truncado

Ritmo de implantação da TV digital no país é lento, e o plano de migração para o novo sistema em junho de 2016 já parece ameaçado

Passados quase quatro anos desde o início das transmissões de TV digital no Brasil, em dezembro de 2007, a evolução dessa tecnologia decepciona, na comparação com o que foi prometido.
O serviço ainda está restrito, na prática, às capitais dos Estados. A expansão do sinal digital para todo o país, que deveria estar concluída em 2016 segundo os planos do governo federal, já é colocada em dúvida pelas emissoras. "A digitalização da transmissão anda devagar", admite o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo.
O atraso não se refere só ao alcance da TV digital, mas também à qualidade do serviço. Uma das principais promessas do novo sistema, a interatividade -em que o telespectador pode opinar, escolher, comprar, entre outras facilidades, por meio do controle remoto-, não passa de miragem até agora.
O governo não pode se declarar surpreso diante desse quadro. Desde o início do processo, na administração de Luiz Inácio Lula da Silva, os lobbies econômicos prevaleceram sobre os argumentos técnicos, e as emissoras tiveram quase todos os seus pleitos contemplados. Contrapartidas prometidas, todavia, foram abandonadas.
O caso mais evidente é o da promessa, alardeada por Lula e seu então ministro das Comunicações, Hélio Costa, de instalar uma fábrica de semicondutores, componentes de altíssima tecnologia, como compensação pela escolha do padrão japonês de TV digital em lugar do europeu, mais difundido pelo mundo. Até hoje nada saiu do papel, e a avaliação é que a instalação desse tipo de indústria por aqui possa levar 20 anos.
Emissoras também se movimentam a fim de dilatar o prazo acordado para a digitalização total do sistema, prevista para junho de 2016. Resistem também a abrir mão da atual frequência que usam para o sinal analógico.
O principal entrave são os vultosos investimentos necessários em toda a cadeia de equipamentos, de câmeras a antenas retransmissoras -de uma linha de crédito de R$ 1 bilhão no BNDES foram liberados apenas R$ 107 milhões. Em praças mais distantes e de menor poder aquisitivo, o interesse comercial é muito menor.
Nem tudo, no entanto, deu errado até aqui. O sistema japonês de TV digital foi adaptado a um padrão nipo-brasileiro, que acabou adotado pela maior parte dos países da América do Sul. Isso ajuda a aumentar a escala e, assim, diminuir os custos de equipamentos.
A preocupação com o preço dos conversores também parece superada. Os aparelhos para receber o sinal digital são vendidos a preços acessíveis, e boa parte dos novos televisores já vem de fábrica preparada para o novo sistema.
O balanço parcial, entretanto, é insatisfatório. O governo abusou das promessas e se esqueceu das contrapartidas. É tarde, agora, para mudar o canal.



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