São Paulo, sexta-feira, 14 de outubro de 2011

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Editoriais

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Consulta a jato

A realidade lamentável do atendimento nos postos médicos da capital paulista, flagrada em reportagem publicada nesta Folha, é mais uma prova de que o principal problema da saúde no país não está na falta de recursos. Ao contrário, o que se constata é o desperdício -ou o simples desvio- de dinheiro público.
Por duas semanas, repórteres deste jornal acompanharam a rotina de consultas em UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e AMAs Especialidades (Assistência Médica Ambulatorial) mantidas pela Prefeitura de São Paulo.
Não faltam médicos nesses postos. Ao menos não na folha salarial do município.
Muitos dos profissionais ali lotados, entretanto, dedicam um número de horas ao atendimento do público bastante inferior àquele estipulado em seus contratos. Esperam pelos pacientes e, no escasso tempo dentro do consultório, apressam consultas, que muitas vezes não duram mais do que um par de minutos.
Num posto do bairro de Paraisópolis (zona sul), por exemplo, uma ginecologista contratada para trabalhar 20 horas semanais não dedica às suas funções mais do que 8 horas, divididas em dois turnos, de acordo com o testemunho de outros funcionários da unidade.
Foram contados outros 20 profissionais com procedimento semelhante -há indícios de que a prática é disseminada. Existem relatos da existência de acordos informais entre gestores e médicos, que deveriam cumprir meta de 80 atendimentos semanais em troca da redução do período de trabalho.
A prefeitura nega. Diz que "não compactua com a redução da jornada" e promete investigar. É o que já deveria estar sendo feito, se houvesse um mínimo de respeito ao dinheiro do contribuinte e de compromisso com a saúde.
O caso paulista torna patente a falácia, apregoada no governo federal, por setores corporativos interessados e por parte dos congressistas, de relação direta e necessária entre o volume de dispêndio e a melhoria do atendimento.
Enquanto não houver uma fiscalização adequada dos gastos, inclusive com a divulgação de índices de satisfação dos pacientes e da qualidade dos serviços, discutir a destinação de novos recursos para a saúde equivale a enxugar gelo.



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