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ELIANE CANTANHÊDE
Para que inimigos?
BRASÍLIA - Eleições perdem-se, eleições ganham-se. Vitória gera alegria
e disputas de egos e de espaços. Derrota traz mágoas e empurra-empurra de culpas e de responsabilidades.
O que fica feio é o "aliado" da campanha ser o primeiro a atirar pedras
em público no derrotado já nos primeiros dias depois da eleição. É isso
que a tendência "Articulação na Base", do PT, está fazendo em Sergipe.
Fosse apenas um caso local, lá entre
eles, a gente nem daria bola. Mas pode ser usado como exemplo do estrago que as alas radicais e a guerra de
tendências podem fazer no partido.
E, pior, no governo Lula.
O senador José Eduardo Dutra (PT)
chegou ao segundo turno, teve 45% e
perdeu para o futuro e ex-governador João Alves (PFL) por apenas
87.495 votos. O PT tem o prefeito de
Aracaju, Marcelo Déda, e uma boa e
ativa militância no Estado, mas João
Alves tem muito dinheiro, poder,
simpatias em setores públicos, privados e, dizem até, na Justiça.
Foi uma eleição difícil, mesmo com
a "onda vermelha" de Lula. Logo não
cabe à tal "Articulação na Base", dissidência da "Articulação" (de Dutra,
Déda e majoritária no PT nacional)
soltar documento público xingando.
Diz o texto, de três páginas compactas, que Déda e Dutra tiveram um
"comportamento dúbio", por causa
de "abraços e afagos" com a família
de Albano Franco, governador tucano, e reclama de "desrespeito, descompromisso e desconsideração"
com os dissidentes na campanha.
Quem lê o texto, ainda em meio às
comemorações da vitória de Lula, logo pensa: quanto do PT nos municípios, nos Estados e mesmo no âmbito
nacional ainda age e reclama assim?
E, se Lula ganhou abraçando Sarney
e o PL, por que Dutra e Déda não deveriam abraçar Albano?
Com o PFL e o PSDB tentando se
posicionar e o PMDB se aprontando
para pular nos braços (e nos cargos)
do governo PT, a carta de Sergipe reforça a nossa velha suspeita de que o
pior adversário do PT deve ser o PT.
Aliás, a suspeita nem é "nossa".
Adivinhe você de quem é?!
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