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São Paulo, sexta-feira, 14 de novembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Além dos próprios limites?

BRUXELAS - Não dá para discordar do governador Jorge Viana (PT-AC), quando diz que o "núcleo de poder" no governo Luiz Inácio Lula da Silva está "distante da realidade" e precisa ser "mais operativo para as coisas acontecerem".
Pena que tenha demorado para perceber o óbvio, mesmo sendo irmão do líder do governo no Senado, Tião Viana. Ou demorou para expor sua análise exatamente por ser irmão de um líder governista?
Bem feitas as contas, a crítica do governador acreano pode até ser tomada como elogio. Parte do pressuposto de que o núcleo de poder esteja apenas "distante da realidade", quando caberia perfeitamente suspeitar que estaria, ao contrário, perfeitamente adaptado à realidade, satisfeito com ela e empenhado em preservá-la tal como está.
Ou, posto de outra forma, o PT no governo dá a nítida sensação de que não tinha um projeto para o país, mas um projeto apenas para ocupar o governo e, uma vez atingido o objetivo, manter-se nele.
Caberia uma segunda hipótese, igualmente negativa: as lideranças petistas violaram o "princípio de Peter", aquele que diz que ninguém deve ultrapassar o limite de sua competência -sob pena de se dar mal. É possível que o limite de competência do pessoal do PT fosse liderar a oposição, nada mais do que isso.
Não dá, ainda, para cravar firmemente essa hipótese, mas já passou tempo suficiente para para começar a analisá-la.
De todo modo, começa a ficar nítido que José Dirceu, o chefe da Casa Civil, não é o gênio da política que ele próprio acredita ser e que boa parte do jornalismo tomou como verdade indiscutível (como o fizera antes com outras figuras, hoje no mais absoluto ostracismo).
Como chefe de partido, Dirceu provou ser muito competente. Como vice-rei, começa a ser visto nu e a dizer-se cansado. E não se trata de cobrar coerência, não. Trata-se de eficácia. Ponto.


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