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CLÓVIS ROSSI
Além dos próprios limites?
BRUXELAS - Não dá para discordar
do governador Jorge Viana (PT-AC),
quando diz que o "núcleo de poder"
no governo Luiz Inácio Lula da Silva
está "distante da realidade" e precisa
ser "mais operativo para as coisas
acontecerem".
Pena que tenha demorado para
perceber o óbvio, mesmo sendo irmão do líder do governo no Senado,
Tião Viana. Ou demorou para expor
sua análise exatamente por ser irmão
de um líder governista?
Bem feitas as contas, a crítica do governador acreano pode até ser tomada como elogio. Parte do pressuposto
de que o núcleo de poder esteja apenas "distante da realidade", quando
caberia perfeitamente suspeitar que
estaria, ao contrário, perfeitamente
adaptado à realidade, satisfeito com
ela e empenhado em preservá-la tal
como está.
Ou, posto de outra forma, o PT no
governo dá a nítida sensação de que
não tinha um projeto para o país,
mas um projeto apenas para ocupar
o governo e, uma vez atingido o objetivo, manter-se nele.
Caberia uma segunda hipótese,
igualmente negativa: as lideranças
petistas violaram o "princípio de Peter", aquele que diz que ninguém deve ultrapassar o limite de sua competência -sob pena de se dar mal. É
possível que o limite de competência
do pessoal do PT fosse liderar a oposição, nada mais do que isso.
Não dá, ainda, para cravar firmemente essa hipótese, mas já passou
tempo suficiente para para começar
a analisá-la.
De todo modo, começa a ficar nítido que José Dirceu, o chefe da Casa
Civil, não é o gênio da política que ele
próprio acredita ser e que boa parte
do jornalismo tomou como verdade
indiscutível (como o fizera antes com
outras figuras, hoje no mais absoluto
ostracismo).
Como chefe de partido, Dirceu provou ser muito competente. Como vice-rei, começa a ser visto nu e a dizer-se cansado. E não se trata de cobrar
coerência, não. Trata-se de eficácia.
Ponto.
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