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CARLOS HEITOR CONY
Chá da meia-noite
RIO DE JANEIRO - Embora legalizada em outros países, a eutanásia
continua proibida no Brasil. No entanto demos um passo importante
em direção à dignidade do único
episódio vital que é a morte. Com
isso estou lembrando a frase de santo Agostinho: "a vida não é mortal, a
morte é que é vital".
A ortotanásia difere da eutanásia
porque não interrompe a vida do
doente terminal, simplesmente
deixa que a natureza siga o seu caminho. Os adversários da eutanásia
a consideram um assassinato, porque se trata de um ato específico
que provoca o fim. A ortotanásia, de
certa forma, é um não-ato aprovado
previamente pelos médicos e pelas
famílias e, em alguns casos, pelo
próprio paciente em condições de
expressar uma vontade.
Mas, todas as vezes que ouço falar
em eutanásia, me lembro do "chá
da meia-noite", que diziam ser comum nos hospitais públicos. Os
doentes desenganados recebiam
uma visita suplementar, que caridosamente oferecia um chá incrementado ao paciente, dizendo que
se tratava de uma mordomia em paga pelo bom comportamento do enfermo. Garantiam que o chá era um
prêmio que tinha uma eficácia assombrosa para curar doenças e aliviar dores.
Comovido, o doente bebia o chá
com sua auto-estima redobrada:
era um enfermo bem-comportado e
merecedor de atenção especial da
direção da enfermaria. No dia seguinte, havia um leito vazio no hospital. A prática do "chá da meia-noite" é negada por alguns e confirmada por outros que sobreviveram à
mordomia letal. Se verdadeiro, o
chá era um assassinato, embora tivesse o nome pomposo de caridade
ou a denominação técnica de "eutanásia". A questão da morte induzida
sempre provocou polêmicas. Mas,
desta vez, a Igreja Católica aprovou
a ortotanásia numa atitude que alguns consideram surpreendente.
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