São Paulo, terça-feira, 14 de novembro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Papai Noel que se cuide

BRASÍLIA - Definitivamente, Lula não pode ver um palanque que se aboleta nele e sai deitando falação. Pode ser para brasileiro, para chinês ou para inglês ver, não importa. Ontem, foi para cerca de 20 mil venezuelanos, em Ciudad Guayana, onde inaugurou a ponte do rio Orinoco, empreendimento de US$ 1,2 bilhão com financiamento do BNDES à Odebrecht.
Em tom de campanha, agora pela re-re-reeleição de Chávez, Lula recuou no tempo, de volta ao primeiro e ao segundo turnos aqui do Brasil, reclamando da... imprensa. E justamente na semana seguinte à descoberta de que a Polícia Federal quebrou o sigilo de telefones da Folha, apesar de Lula falar em lua-de-mel com a mídia e de prometer uma entrevista coletiva como deve ser, com princípio, meio e fim.
Ao lado de Chávez, ele pegou pesado, comparando a imprensa do Brasil com a da Venezuela -tão dividida e radicalizada, contra e a favor do governo, como o próprio processo político no país chavista.
Foi uma péssima comparação. Os assessores de Lula devem estar arrancando os cabelos. Unindo o "fortão", que saiu do nada e virou presidente, ao "fraquinho", sempre vítima das elites, Lula também se lamentou dos bancos e das empresas privadas, que encheram as burras no governo petista, mas, se pudessem, votariam mesmo é nos seus adversários. Uns baita ingratos, esses bancos e essas grandes empresas.
Para Lula, tanto ele como Chávez são vítimas de "preconceito" e de "incompreensões". Muita gente, porém, acha que a grande vítima de preconceito e de incompreensão é outra: o Papai Noel, coitado, que é inofensivo, bonachão e bom de promessas, mas acaba de ser banido por Chávez do Natal da Venezuela.
Se é da elite, que ponha as barbas de molho por aqui também.
É de chorar de rir. Ou é de rir de tanto chorar?


elianec@uol.com.br


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