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Quem não se comunica...
CELULARES gratuitos para os
beneficiários do Bolsa Família. A ideia, capaz de provocar inveja no mais delirante
marqueteiro, foi apresentada ao
presidente Lula pelo ministro
das Comunicações, Hélio Costa,
e conta com a previsível simpatia
das empresas do setor.
Fechando um circuito de generosidades que interliga a sucessão presidencial, as aspirações
de Hélio Costa ao governo de Minas Gerais, a população pobre e
os interesses das telefônicas, a
ideia -nestes tempos de apagão- terá parecido luminosa.
Tão luminosa que salta aos
olhos o seu intuito eleitoreiro, do
qual só o ministro aparenta duvidar. Se a atitude de "atender às
pessoas mais pobres" tem alguma função eleitoral, declarou
Costa, "alguém vai ter que me
mostrar isso, e nós, evidentemente, vamos atrasar o projeto
até depois das eleições."
Alcançando quase 12 milhões
de famílias, o programa de transferência de renda do governo Lula tem evidente efeito eleitoral
-aspecto que, aliás, não o desqualifica. Trata-se de oferecer,
em troca de assiduidade escolar
e aos postos de saúde, uma base
mínima de sobrevivência para o
estrato mais carente da população, necessidade incontestável
num país como o Brasil.
De recurso paliativo, o Bolsa
Família vai seguindo entretanto
um roteiro de desvirtuamento.
Em vez de medir o sucesso do
programa pela diminuição do
número dos que dele necessitam, o Executivo tem se empenhado em estendê-lo ainda mais.
Mesmo para os padrões do populismo, a ideia dos celulares
gratuitos chama contudo a atenção pelo que tem de bizarro, de
extravagante, de inessencial. Por
que não cimento e tijolos, iogurte ou dentaduras, chinelos ou
computadores, filtros de água ou
cápsulas de vitamina?
O próprio ministro das Comunicações explica: é que o mercado de telefonia móvel já atingiu
seus limites de expansão nas faixas de maior renda. Trata-se de
ampliar a freguesia, nas classes D
e E. As empresas agradecem.
"Vocês querem celular?", poderia perguntar o ministro Hélio
Costa, a exemplo do Chacrinha,
aos beneficiários do Bolsa Família. A resposta só pode ser: "Sim,
é claro". Afinal, quem não se comunica se trumbica.
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