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ELIANE CANTANHÊDE
Evolução da espécie humana
BRASÍLIA - Em resposta a uma
pergunta que lhe fiz em Caracas,
em agosto de 2003, Lula disse assim: "Em toda minha vida, nunca
gostei de ser rotulado de esquerda.
E, na primeira vez que me perguntaram se eu era comunista, respondi: "Sou torneiro mecânico'".
Agora, depois de confundir "evolução da espécie humana" com envelhecimento natural das pessoas,
saiu-se com essa: "Se você conhecer
uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque ela tem problemas. Se
você conhecer uma pessoa muito
nova de direita, é porque também
tem problemas".
Soa engraçadinho, para uns, negação do PT, para outros, ou traição
à esquerda, para terceiros. No fundo, porém, trata-se do mais puro
oportunismo. Lula foi vendido com
o rótulo de esquerda, sim, quando
isso convinha na disputa pelo poder
e seu marketing era ser contra "tudo o que está aí". Hoje, presidente,
ele não precisa mais de rótulos e de
maquiagem, e o PT nem é mais de
esquerda, nem descambou para a
direita, nem se equilibra no centro.
Apenas tenta se entender.
A frase foi só mais um lance pragmático de um político aplaudido como "intuitivo". Lula jogou o PT fora
para se agarrar ao PMDB e aos
mensaleiros, distribuiu o Bolsa Família para criar a sensação de distribuir renda, permitiu que os bancos
tivessem o maior lucro da história
enquanto o crescimento só bateu o
do Haiti.
Agora, para completar, finge que
a esquerda não é com ele, tenta
atrair os partidos, namora Delfim
Netto e procura "grandes quadros"
para compor o segundo mandato.
Do PT sobram poucos, como Tarso
Genro, cotado para tudo o que aparece, Justiça, Defesa, área política.
Será que Lula gosta tanto assim
do petista Tarso? Quem conhece ri
e explica: "Não, é o contrário. Lula
está é louco para se livrar do Tarso
no Planalto". Dá para dizer: do Tarso, do PT e do restinho de esquerda
que ainda estiver sobrando por lá.
elianec@uol.com.br
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