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ELIANE CANTANHÊDE
O gostinho (amargo) da vitória
BRASÍLIA - Como transformar
uma vitória numa derrota: basta seguir os passos do PSDB, que rachou
em pedaços durante a tramitação
da CPMF e não conseguiu reunir os
cacos ontem para comemorar a
maior derrota do governo Lula no
Congresso. Em vez disso, os tucanos choramingavam pelos cantos.
Governadores irados, senadores
perplexos (com eles mesmos), todos com ciúme do DEM.
Afinal, foi o DEM quem levantou
a bandeira contra a CPMF, articulou-se com a Fiesp, garantiu a unidade na Câmara e depois no Senado
e ajudou segurar o impulso tucano
de cair no colo do Planalto.
Juntos, os dois partidos poderiam ontem dividir o gostinho da vitória e já retumbar a disposição dos
líderes Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) de, passada a
votação, sentar à mesa para negociar com o governo a menor perda
possível para a saúde. Mas o PSDB
não sabe comemorar vitórias, como
não sabe fazer oposição.
Afinal, Arthur Virgílio merece as
glórias por ter segurado as rédeas
do partido na oposição? Ou deve ser
demonizado pelo fim de um imposto tão importante para a área social? O razoável seria que os tucanos cuidassem de lhe garantir as
glórias, deixando o resto para o governo. Se não fossem tucanos...
E como transformar derrota em
vitória: basta seguir o governo, escondendo que os ventos internacionais sopram a favor, a arrecadação é
recorde, e a gastança, muita. E
ameaçando aumentar a carga tributária já escorchante e cortar gastos
com "os pobres". Jogando a culpa
na oposição, é claro.
Independente da guerrinha entre
vitoriosos e derrotados, o fato é que
o governo vinha excessivamente
forte, e a oposição, frágil. O fim da
CPMF é um tranco. O governo desce do salto alto, o Congresso recupera credibilidade, e a oposição passa a ter real poder de pressão. Esse
equilíbrio é saudável e anima a negociação para o "bem comum".
elianec@uol.com.br
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