São Paulo, sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

O gostinho (amargo) da vitória

BRASÍLIA - Como transformar uma vitória numa derrota: basta seguir os passos do PSDB, que rachou em pedaços durante a tramitação da CPMF e não conseguiu reunir os cacos ontem para comemorar a maior derrota do governo Lula no Congresso. Em vez disso, os tucanos choramingavam pelos cantos.
Governadores irados, senadores perplexos (com eles mesmos), todos com ciúme do DEM.
Afinal, foi o DEM quem levantou a bandeira contra a CPMF, articulou-se com a Fiesp, garantiu a unidade na Câmara e depois no Senado e ajudou segurar o impulso tucano de cair no colo do Planalto.
Juntos, os dois partidos poderiam ontem dividir o gostinho da vitória e já retumbar a disposição dos líderes Agripino Maia (DEM) e Arthur Virgílio (PSDB) de, passada a votação, sentar à mesa para negociar com o governo a menor perda possível para a saúde. Mas o PSDB não sabe comemorar vitórias, como não sabe fazer oposição.
Afinal, Arthur Virgílio merece as glórias por ter segurado as rédeas do partido na oposição? Ou deve ser demonizado pelo fim de um imposto tão importante para a área social? O razoável seria que os tucanos cuidassem de lhe garantir as glórias, deixando o resto para o governo. Se não fossem tucanos...
E como transformar derrota em vitória: basta seguir o governo, escondendo que os ventos internacionais sopram a favor, a arrecadação é recorde, e a gastança, muita. E ameaçando aumentar a carga tributária já escorchante e cortar gastos com "os pobres". Jogando a culpa na oposição, é claro.
Independente da guerrinha entre vitoriosos e derrotados, o fato é que o governo vinha excessivamente forte, e a oposição, frágil. O fim da CPMF é um tranco. O governo desce do salto alto, o Congresso recupera credibilidade, e a oposição passa a ter real poder de pressão. Esse equilíbrio é saudável e anima a negociação para o "bem comum".


elianec@uol.com.br

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