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NELSON MOTTA
Ter razão ou ser feliz?
BELO HORIZONTE - Em tempo
de radicalização e de guerra de opiniões, quando cada um quer provar
que tem razão, mesmo à custa da
verdade, com a clareza e sinceridade que caracterizam nosso grande
poeta, Ferreira Gullar foi ao fundo
da questão: "o importante não é ter
razão, é ser feliz". E abriu o coração
inteligente: quando discute com a
namorada e acabam brigando, ele
sempre tem razão, mas ela vai embora furiosa e passa três dias sem ligar. Ele fica sozinho em casa, cheio
de razão, mas numa tristeza infinita, infelicíssimo.
Há muito tempo me esforço para
desistir da idéia de convencer alguém de qualquer coisa. Com minha intuição, experiência e convicções, ofereço minhas opiniões com
sinceridade, apresento meus argumentos, me empenho em ser claro e
objetivo. Se forem aceitas, ótimo, se
não, ótimo também.
Gosto de aprender, não tenho
problemas para admitir meus erros
e equívocos, não me sinto inferior
por não ter razão. Nem culpado por
me sentir feliz.
Gullar, comunista histórico, sabe
que nenhum sistema político, econômico ou filosófico gerado pela razão humana é capaz de fazer o indivíduo feliz, que é o que interessa.
Cada pessoa é um mundo complexo, insondável e imprevisível, e a
sensação de felicidade ou o seu
avesso atingem ricos e pobres, burros e sábios, religiosos e ateus, desde que o mundo é mundo. Não bastam diversão e arte, além de comida, para fazer o homem e a mulher
felizes. O buraco é mais embaixo e
muito mais fundo.
Passeando pelos blogs, especialmente os políticos, e lendo as torrentes de ódio, ressentimento e vitupérios que as falanges digitais de
militantes trocam o dia inteiro (essa gente não trabalha?), não se pode
deixar de notar que, quanto mais
razão eles acham que têm, mais infelizes se sentem.
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