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RUY CASTRO
Síndrome de Suri
RIO DE JANEIRO - Temo estar
perdendo maravilhas, mas nunca vi
um filme com Katie Holmes. Sei
que é mulher de um ator chamado
Tom Cruise, de quem também só
assisti a "De Olhos Bem Fechados",
por causa do diretor Stanley Kubrick, e que o casal tem uma filha de
3 anos, Suri, que vive saindo na mídia por usar sapatos de salto alto,
tomar vinho tinto e ter seu próprio
cartão de crédito.
Holmes e Cruise devem ter suas
razões -despreparo, carreirismo
ou deslumbramento- para permitir tal precocidade na biografia da
filha. Nas reportagens sobre Suri, os
ortopedistas alertam para o fato de
que saltos altos são incompatíveis
com uma estrutura óssea cuja formação, segundo eles, só se completará aos 12 ou 13 anos. Além de serem uma garantia de dores, calos e
joanetes para Suri e, na vida adulta,
de pernas curtas e dificuldade para
caminhar. Esses alertas, pelo visto,
caem no vazio.
O problema não se limita a Hollywood ou a filhos de pais famosos.
No Brasil, talvez mais que em outros países, há meninas entre 3 e 10
anos com hora marcada no salão
para depilar a sobrancelha, aplicar
"luzes" no cabelo ou fazer tratamento contra celulite. Toda garota
quer se parecer com a mãe, é normal. O problema é quando os fabricantes de cosméticos, sutiãs etc. assumem o controle dessa estética infantil e passam a impô-la às crianças com a conivência das mães.
O humanista americano Neil
Postman (1931-2003) alertou para
esse problema num grande livro de
1982, "O Desaparecimento da Infância" (há versão brasileira, pela
editora Graphia). Todas as previsões de Postman se confirmaram:
sem saber, estamos gerando crianças-adultos, que dificilmente chegarão à maturidade.
Sem saber, mesmo -talvez porque nós próprios, filhos da segunda
metade do século 20, já sejamos
adultos-crianças.
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