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Chávez e o Legislativo
Desde o significativo avanço da
oposição nas eleições legislativas
de setembro na Venezuela, já se
especulava sobre a possibilidade
de Hugo Chávez usar instrumentos institucionais legais -embora
de legitimidade questionável-
para manietar a nova Assembleia
Nacional antes mesmo de sua posse, no dia 5 de janeiro.
O presidente gozou de poderes
quase irrestritos por cinco anos
-fruto do equivocado boicote
eleitoral da oposição nas eleições
legislativas anteriores. Afora uma
dúzia de dissidentes, a Assembleia assentia a qualquer projeto e
confirmava qualquer vontade do
líder da "revolução bolivariana".
Há pouco mais de dois meses,
os eleitores foram às urnas expressar desagrado com o governo Chávez. O sistema de escrutínio distrital impediu que um número maior
de cadeiras fosse perdido pela situação. Apesar de o PSUV (Partido
Socialista Unido da Venezuela),
governista, ter conquistado apenas 46% do total de votos, conseguiu ficar com 98 das 165 vagas da
Assembleia Nacional.
A Chávez faltou um deputado
para manter a maioria qualificada
que lhe permitiria, entre outras facilidades, aprovar uma "lei habilitante", instrumento que concede
ao Executivo o poder de legislar
por decreto sobre um conjunto de
temas -a serem definidos na própria lei-, sem a necessidade de
anuência dos deputados.
A atual Assembleia, a dias de
encerrar o mandato, mostra-se
disposta a autorizar o uso do instrumento cesarista -como Chávez já havia conseguido em outras
ocasiões. Numa explicação tragicômica para nova solicitação, o
presidente disse que a lei é importante para que possa baixar normas de combate aos efeitos das
chuvas das últimas semanas, que
deixaram 120 mil desabrigados.
Da tempestade aos males do capitalismo, foi um passo. O dispositivo também servirá para, em suas
palavras, "acelerar a implementação do socialismo" no país. Trata-se, de fato, de afrontar o resultado
das urnas e diminuir o poder, antes da posse, de uma Assembleia
que se mostrará menos dócil às
vontades presidenciais.
O caudilho, que costuma se gabar de supostas virtudes legalistas, desrespeita, assim, o que resta
de democracia na Venezuela.
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