São Paulo, segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

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Evasão no ensino superior: causas e remédios

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO, MARIA BEATRIZ DE C. M. LOBO e OSCAR HIPÓLITO


A evasão é uma fonte de ociosidade de professores, equipamentos, espaço físico. Representa perdas sociais e econômicas importantes


EM DECORRÊNCIA da reportagem publicada nesta Folha de S.Paulo em 31/12 sobre o estudo da evasão no ensino superior brasileiro realizado pelo Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia, temos sido freqüentemente indagados sobre as causas da evasão e os possíveis remédios para combatê-la.
Nos últimos cinco anos, como mostrou a reportagem, a taxa de evasão anual média no Brasil correspondeu a 22%. No setor público, a evasão significa recursos públicos investidos sem o devido retorno. No setor privado, ela é uma importante perda de receita.
Em ambos os casos, a evasão é uma fonte de ociosidade de professores, funcionários, equipamentos e espaço físico.
Portanto, para o país, a desistência do aluno representa perdas sociais e econômicas importantes. Do ponto de vista da instituição, não há maior fracasso no atendimento de sua missão do que o aluno que se evade.
Enquanto, no setor privado, 2 a 6% das receitas são despendidos com marketing para atrair novos estudantes, nada parecido é investido para manter os alunos que já estão matriculados. No entanto, estudos internacionais indicam que o custo para manter um estudante é cerca de quatro vezes menor do que o necessário para atrair um novo aluno.
No Brasil, são [ ] raríssimas as instituições de ensino superior (IES) que possuem um programa profissionalizado de combate à evasão, com planejamento de ações, acompanhamento de resultados e coleta de experiências bem sucedidas. Este problema vem sendo estudado sistematicamente há muitos anos nos EUA,onde se encontram os dados mais completos e as estatísticas mais abrangentes sobre as causas e as formas de combater a evasão estudantil.
Segundo professor Vincent Tinto, da Universidade de Syracuse, considerado uma das maiores autoridades mundiais neste assunto, "as pesquisas mostram que a freqüência e a qualidade da interação dos estudantes com os professores, funcionários e colegas é um dos principais indicadores não só da permanência, mas também do aproveitamento estudantil". A necessidade de o aluno estar envolvido não só com seu aprendizado, mas também com o dos seus colegas, estimulou nos EUA a criação dos chamados centros de aprendizagem.
Também é bem conhecido que mais de metade das evasões tem origem real no primeiro ano do curso. Tinto afirma que é preciso trabalhar para que alguns estudantes não comecem as aulas regulares tão atrasados em relação aos demais que sua integração ao programa acadêmico regular seja impossível.
Ele diz ainda que "embora os estudantes citem freqüentemente razões financeiras para a evasão, estas, na verdade, refletem o produto final e não a origem da decisão de sair. Esta decisão leva em conta prioridades conflitantes dos estudantes".
Professor Corts, ex-presidente da Samford University, também minimiza a importância das questões financeiras como causa preponderante da evasão. Comparando o abandono do aluno com um caso de amor mal sucedido, Corts diz que os "estudantes não abandonam faculdades por grandes razões, mas por acúmulo de pequenas razões que destroem suas justificativas de escolha de uma instituição".
Portanto, para combater a evasão, recomendam-se:
-Especial atenção ao aluno ingressante, com programas de integração e nivelamento, seminários, tutorias, apoio na escolha de disciplinas, etc.
-Análise dos dados locais de evasão que identifique as épocas críticas e as principais causas e que resulte em estratégias especiais para os maiores candidatos à evasão;
-Programas permanentes de orientação e acompanhamento dos alunos;
-Envolvimento de toda a IES no combate à evasão. Ela não é um problema só do coordenador de curso ou do setor de apoio ao estudante, mas de todos os professores e funcionários, além da Administração Superior.
Não nos esqueçamos, porém, que alguns estudantes sempre irão se evadir. Engano na escolha do curso, exigência de estudo acima do esperado para quem busca somente um diploma e transferência para IES mais desejadas são razões que sempre existirão.
O importante na luta contra a evasão é que os alunos não abandonem seus cursos por motivos que poderiam ser evitados.

ROBERTO LEAL LOBO E SILVA FILHO , ex-reitor da USP, é presidente do Instituto Lobo.
MARIA BEATRIZ DE C. M. LOBO , ex-vice-reitora da Universidade Mogi das Cruzes, é vice-presidente do Instituto Lobo.
OSCAR HIPÓLITO , ex-diretor do Instituto de Física USP-São Carlos, é consultor do Instituto Lobo.


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