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FERNANDO CANZIAN
Eles contra nós
INFLAÇÃO de 4,4% e dentro da
meta. PIB acima de 5%. Maiores
lucros da história. Alta de 44%
na Bolsa. Mais de 1,6 milhão de empregos formais. Investimentos recordes. Mais eficiência e competitividade. Chuva de dólares.
Edificado sobre um cenário externo ainda positivo e a partir dos
cuidados do Banco Central, oásis
de prudência na área pública, esse
é o setor privado de 2007.
Um Lobão na porta do galinheiro
da energia, temeridade para a economia. Falta de infra-estrutura.
Tentativa de ressuscitar a CPMF
para não cortar míseros 3,5% do
Orçamento. Para os gastos sem
fim, mais imposto sobre o pobre
que só pode comprar a crédito.
Abulia diante dos desafios estruturais: a Previdência, o caos tributário, os custos trabalhistas. Escárnio e mentiras frente aos problemas. Nepotismo, gastança e empreguismo em tribunais, estatais,
ministérios, Estados, prefeituras,
no Congresso. Em toda parte. Esse
é o setor público.
Há algo muito errado no Brasil.
Parte dele luta para se modernizar,
corta na carne para se ajustar. Quer
correr contra o tempo perdido.
A outra segue como um fardo parasita. No intramuros da politicagem e da estabilidade, apenas engorda assistindo à carnificina darwinista que é a regra do lado de fora, onde a conta é paga.
Segue como piratas, velando pela
âncora pesada que segura o navio
que quer zarpar. Uma geração inteira hoje na faixa dos 40 nunca viu
o país crescer. Não como agora.
Com tantas chances reais de se
afastar para sempre de uma praia
maldita infestada de inflação, desemprego e miséria.
Mas os políticos e o setor público
teimam em agarrar-se ao passado.
Não se incomodam em colaborar.
Com exceções que não deveriam
ser senão a regra, remam contra.
Chupins pançudos e alheios aos esforços de quem os alimenta à revelia, com impostos.
Não há cidadão ou ente privado
que agüente mais esse arranjo.
Deu. A campanha vitoriosa contra
a CPMF e a queda da MP 232 em
2005, visando mais carga tributária, são os dois primeiros, mas agudos, sinais desse cansaço.
Há muitos anos perdidos dizia-se: "Ou o Brasil acaba com a saúva,
ou a saúva acaba com o Brasil".
Embora o inseticida encontre-se
dentro do próprio formigueiro,
poucos servidores e homens públicos de bem fazem uso dele, mesmo
já morrendo de vergonha pelo estado das coisas. Onde estão as denúncias dos quem vêem ou sabem
dos desmandos? As novas idéias?
O que querem os políticos? O
que mais quer o setor público? Um
"neomaniqueísmo" -eles contra
nós- derivado da perplexidade
diante de tamanha indiferença?
Nada pior para o conjunto, para o
país. Pena, pois já estamos quase lá.
FERNANDO CANZIAN é repórter especial.
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