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Reforma pelo meio
Faz bem a presidente Dilma ao acenar com desonerações tributárias, mas é lamentável a decisão de abandonar as mudanças na Previdência
É lamentável a decisão da presidente Dilma Rousseff de não encaminhar nenhuma proposta de reforma em seu início de governo
para evitar um dispêndio "monstruoso" de energia -como ela disse. O principal ponto a lastimar é,
sem dúvida, o abandono das mudanças necessárias para tornar
sustentável o sistema de Previdência. Age a presidente em consonância com o imobilismo de seu
antecessor, que após obter a aprovação de novos critérios para pensões do funcionalismo nada fez
para regulamentá-los.
O número de brasileiros acima
dos 60 anos deve mais que triplicar até 2050. Levada em conta a
atual pirâmide populacional, os
gastos com aposentadorias já estão num patamar alto, de 8,5% do
PIB. Se nada for feito, podem chegar a comprometer 16,5% do que o
país produz, em 40 anos.
São conhecidas as soluções para as mazelas desse sistema. É necessário pôr fim aos privilégios do
setor público, que produziu um
deficit de R$ 25 bilhões no primeiro semestre do ano passado para
atender a 938 mil segurados. Na
iniciativa privada, que teve resultado negativo de R$ 22,6 bilhões
para pagar benefícios a 27,5 milhões, uma revisão dos critérios de
aposentadoria, em razão do aumento da expectativa de vida,
também se fará necessária.
São mudanças que, sem dúvida, cobrarão um preço político -e
é preciso ter ânimo de estadista
para dispor-se a pagá-lo.
Em relação à reforma tributária,
a estratégia da presidente soa
mais auspiciosa. Em vez de propor
um grande pacote que mais uma
vez esbarrará em infindáveis disputas entre Estados, União e municípios, Dilma decidiu priorizar
medidas pontuais, como a desoneração da folha de pagamento,
importante para facilitar a vida
das empresas, que perdem competitividade com o custo Brasil.
Feitas de modo calculado, essas
mudanças infraconstitucionais
-que pedem menos negociações
e negociatas no Congresso- poderão gerar um efeito cumulativo
favorável nos próximos anos.
Por fim, ao deixar a cargo de deputados e senadores o debate da
reforma política, a presidente parece ter sepultado a estapafúrdia
ideia de uma Constituinte exclusiva para o tema.
Boia de salvação de governantes acossados por denúncias, a remodelação do sistema político
brasileiro é necessária em muitos
aspectos, mas menos urgente do
que o cumprimento da legislação
já em vigor.
O ex-presidente Lula, que tantas vezes lançou mão da ideia da
reforma na tentativa de justificar
os escândalos de seu governo, já
prometeu se engajar "como um
leão" no tema neste ano. Se ainda
estiver disposto a fazê-lo -o que
parece improvável-, poderá comprovar que financiamento público
de campanha ou voto em lista não
teriam evitado o triste espetáculo
do mensalão.
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