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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Dom Décio Pereira, irmão e amigo
Deus chamou dom Décio Pereira, bispo de Santo André (SP),
para receber o prêmio de uma vida totalmente dedicada ao anúncio do Reino de Cristo. Aos 62 anos, foi acometido de um infarto na madrugada do
dia 5 de fevereiro.
Quem teve a graça de conhecer dom
Décio mais de perto há de guardar em
seu coração belas recordações de sua
vida exemplar. Não chamava a atenção sobre si. Preferia fazer o bem no
escondimento. Discreto e humilde,
multiplicava o tempo atendendo a todos que a ele recorriam. Sereno, sabia
acolher a cada um com um sorriso de
bondade.
Nasceu em São Paulo (15/4/1940) e
vivia com modéstia e parcimônia. Sua
infância, no bairro do Belém, foi desde
cedo marcada pelo sofrimento. Filho
único, perdeu a mãe, dona Zilda,
quando tinha apenas dois anos e Hen-rique, o pai, três anos mais tarde. A
educação ficou a cargo de sua avó.
Aprendeu desde cedo a confiar em
Deus e a colocar nele toda a sua esperança. Tinha excelente relacionamento com os colegas do seminário. Cursou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Foi ordenado sacerdote aos 26 anos. Exerceu
com zelo vários cargos na Arquidiocese de São Paulo: vigário na Penha, pároco em Perdizes, na Paróquia Universitária, chanceler, diretor do Ensino Religioso. Sagrado bispo em Roma
(27/5/1979) pelo Santo Padre João
Paulo 2º, assumiu a missão de bispo
auxiliar na capital paulista, um solícito
cooperador do cardeal dom Paulo
Evaristo Arns. Foi nessa época que me
aproximei mais desse santo irmão.
Éramos onze bispos auxiliares ao lado de dom Paulo, formando um colégio de pastores e intensificando sempre mais os laços de amizade e de partilha solidária na missão evangelizadora. Anos felizes de muita fraternidade. Reuníamo-nos com frequência
para rezar, estudar e procurar os melhores caminhos pastorais.
No início, coube a dom Décio atuar
na região do centro. Depois, na região
do Belém, na zona leste. Em 27/5/1997,
foi nomeado para a diocese de Santo
André.
Amado e respeitado pelos sacerdotes, sabia confiar neles e incentivá-los
no exercício do ministério. Sua presença era muito esperada nas comunidades. Aguardavam com afeto sua palavra clara e animadora. Dom Décio
manifestava a felicidade de estar no
meio do povo, de celebrar a Eucaristia
e de cantar os louvores de Nossa Senhora. Dava especial atenção e carinho às crianças, aos mais necessitados, aos encarcerados, aos doentes e
ao povo da rua.
Entre as qualidades de pastor, sobressai a sua dedicação à Catequese
no anseio de tornar mais conhecido e
amado Jesus Cristo. Uma excelente
preparação teológica aliada ao modo
simples, amável e coloquial de se comunicar, recorrendo aos pequenos fatos, nos quais ajudava a descobrir as
manifestações do Deus-Amor. Muito
se empenhou para promover e organizar a Renovação Catequética no Estado e no Brasil.
Qual era a sua característica? A bondade de coração. Não me lembro de
tê-lo visto perder a paciência. Podia
estar cansado e até enfraquecido na
saúde, mas sabia encontrar força na fé
para acolher a todos com boa vontade
e ternura.
Dom Décio estava muito feliz, pois
acabara de participar em Roma, com
os bispos de São Paulo, da visita ao
Santo Padre e aos dicastérios. Voltou
para o Brasil contente e animado. Foi
assim que Deus o chamou. Não quis
dar trabalho a ninguém. Faleceu dormindo. Entrou no céu confiante em
Deus e sorrindo, como sempre viveu.
Irmão e amigo, deixou para nós o
exemplo de sua bela vida, oferecida
toda a Deus e ao próximo.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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