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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Dom Décio Pereira, irmão e amigo

Deus chamou dom Décio Pereira, bispo de Santo André (SP), para receber o prêmio de uma vida totalmente dedicada ao anúncio do Reino de Cristo. Aos 62 anos, foi acometido de um infarto na madrugada do dia 5 de fevereiro.
Quem teve a graça de conhecer dom Décio mais de perto há de guardar em seu coração belas recordações de sua vida exemplar. Não chamava a atenção sobre si. Preferia fazer o bem no escondimento. Discreto e humilde, multiplicava o tempo atendendo a todos que a ele recorriam. Sereno, sabia acolher a cada um com um sorriso de bondade.
Nasceu em São Paulo (15/4/1940) e vivia com modéstia e parcimônia. Sua infância, no bairro do Belém, foi desde cedo marcada pelo sofrimento. Filho único, perdeu a mãe, dona Zilda, quando tinha apenas dois anos e Hen-rique, o pai, três anos mais tarde. A educação ficou a cargo de sua avó. Aprendeu desde cedo a confiar em Deus e a colocar nele toda a sua esperança. Tinha excelente relacionamento com os colegas do seminário. Cursou teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Foi ordenado sacerdote aos 26 anos. Exerceu com zelo vários cargos na Arquidiocese de São Paulo: vigário na Penha, pároco em Perdizes, na Paróquia Universitária, chanceler, diretor do Ensino Religioso. Sagrado bispo em Roma (27/5/1979) pelo Santo Padre João Paulo 2º, assumiu a missão de bispo auxiliar na capital paulista, um solícito cooperador do cardeal dom Paulo Evaristo Arns. Foi nessa época que me aproximei mais desse santo irmão.
Éramos onze bispos auxiliares ao lado de dom Paulo, formando um colégio de pastores e intensificando sempre mais os laços de amizade e de partilha solidária na missão evangelizadora. Anos felizes de muita fraternidade. Reuníamo-nos com frequência para rezar, estudar e procurar os melhores caminhos pastorais.
No início, coube a dom Décio atuar na região do centro. Depois, na região do Belém, na zona leste. Em 27/5/1997, foi nomeado para a diocese de Santo André.
Amado e respeitado pelos sacerdotes, sabia confiar neles e incentivá-los no exercício do ministério. Sua presença era muito esperada nas comunidades. Aguardavam com afeto sua palavra clara e animadora. Dom Décio manifestava a felicidade de estar no meio do povo, de celebrar a Eucaristia e de cantar os louvores de Nossa Senhora. Dava especial atenção e carinho às crianças, aos mais necessitados, aos encarcerados, aos doentes e ao povo da rua.
Entre as qualidades de pastor, sobressai a sua dedicação à Catequese no anseio de tornar mais conhecido e amado Jesus Cristo. Uma excelente preparação teológica aliada ao modo simples, amável e coloquial de se comunicar, recorrendo aos pequenos fatos, nos quais ajudava a descobrir as manifestações do Deus-Amor. Muito se empenhou para promover e organizar a Renovação Catequética no Estado e no Brasil.
Qual era a sua característica? A bondade de coração. Não me lembro de tê-lo visto perder a paciência. Podia estar cansado e até enfraquecido na saúde, mas sabia encontrar força na fé para acolher a todos com boa vontade e ternura.
Dom Décio estava muito feliz, pois acabara de participar em Roma, com os bispos de São Paulo, da visita ao Santo Padre e aos dicastérios. Voltou para o Brasil contente e animado. Foi assim que Deus o chamou. Não quis dar trabalho a ninguém. Faleceu dormindo. Entrou no céu confiante em Deus e sorrindo, como sempre viveu. Irmão e amigo, deixou para nós o exemplo de sua bela vida, oferecida toda a Deus e ao próximo.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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