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São Paulo, sábado, 15 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Carlos Augusto

RIO DE JANEIRO - Quando entro em desespero diante de problemas pessoais ou coletivos, como o da fome, o da má distribuição de renda, o do neoliberalismo e o da globalização, invoco a necessidade de se descobrir os ossos de Dana de Teffé.
Para quem não sabe, Dana de Teffé foi uma milionária assassinada ao que tudo indica por seu advogado e amante, mas, como nunca apareceu seu corpo, já reduzido a ossos, o assassino não pode ser julgado nem condenado.
Eu achava que os ossos de Dana eram inúteis, não serviam para nada a não ser para me darem assunto quando me faltava um. Eis que, faz tempo, numa palestra em Belo Horizonte sobre coisas sérias, de repente fui interpelado por um desconhecido que estava lá no fundo do auditório: "Você poderia nos informar onde estão os ossos de Dana de Teffé?"."
Perplexidade geral na platéia e em mim próprio. Quem seria aquele homem que, num ambiente sério, com perguntas e respostas destinadas a salvar a nação, fazia tamanha provocação, a mim e ao auditório?
Se outro mérito não tivessem os ossos da citada dama, um pelo menos foi grande e chegou a ser imenso. Tornamo-nos amigos a partir daquele dia e daquela pergunta. Não precisávamos de muitas palavras, nos entendíamos pelo olhar. Família ilustre e numerosa em BH, parte dela se desbancou para vir ao Rio assistir à minha posse na ABL.
Em torno dele formou-se uma pequena comunidade ligada pelo afeto e pelo interesse tanto pela vida intelectual como pela vida nacional. Tereza, Tacão, Paulo, Sérgio, Ricardo, Dudu, Ângela, Tícia, Ferrara (pai e filho) -todos ficávamos melhores quando Carlos Augusto nos reunia, muitas vezes à força, para jogar conversa fora e olhar dentro de cada um.
Carlos Augusto se foi, domingo passado. Deixou mais do que uma saudade em seus parentes e amigos. Deixou um vazio do tamanho de seu amor por nós.


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