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TENDÊNCIAS/DEBATES
Parlamentares petistas que votarem contra decisões do partido deverão ser punidos?
SIM
Disciplina livremente consentida
NELSON PELLEGRINO
A pergunta está mal formulada.
Não se trata de perguntar se um
parlamentar do PT deve ou não ser punido por eventual indisciplina. O correto seria uma indagação dirigida a todos
os partidos sobre o valor que cada um
deles atribui à questão da disciplina ou
sobre o respeito que cada um deles concede a suas instâncias de decisão.
O PT se orgulha de praticar a disciplina partidária através de métodos democráticos, por meio de debates amplos
em suas diferentes instâncias. Provam
isso o alto grau de unidade de um partido que prima pelo debate aberto e a raridade do recurso a punições. Com efeito, em duas décadas de história parlamentar, só se registraram dois episódios
de punição. Um, no caso do colégio eleitoral em 1984, e outro, mais recente,
quando da votação de uma das prorrogações da CPMF, em 1999. Isso contrasta fortemente com o comportamento
das bancadas petistas, que, ao longo do
período, votaram unidas mesmo em
matérias que foram objeto de fortes
controvérsias internas.
Com a autoridade de quem faz derivar
a disciplina de seus parlamentares da legitimidade de suas instâncias e do caráter democrático de seus debates, o PT
não é um entusiasta da aprovação de
uma legislação rígida para tratar do assunto, até porque uma legislação dessa
natureza poderia servir de instrumento
para acentuar o controle autocrático de
determinadas oligarquias sobre certos
partidos. Mesmo assim, não nos opomos à adoção de determinadas medidas
visando coibir práticas condenáveis, como a troca indiscriminada de siglas praticada com excessiva frequência, por
motivos obscuros, por determinados
parlamentares.
Por outro lado, cabe registrar que siglas que, em outras circunstâncias, se
beneficiavam da troca indiscriminada
de partidos por parte de parlamentares
com baixos teores de fidelidade agora se
insurgem contra essa prática condenável. Isso é um sinal dos tempos e pode
contribuir para melhorar a legislação
sobre o assunto, fazendo assim com que
os partidos se tornem instituições mais
sólidas, o que só pode contribuir para
consolidar e ampliar os espaços da democracia.
Com isso, quero dizer que o PT tem legitimidade para aplicar punições, mas
certamente agirá com sua sabedoria tradicional, propiciando o debate democrático das teses em questão e esgotando as possibilidades de convencimento
através do argumento e da construção
de consensos progressivos, só então
adotando um posição definitiva, que
dever ser seguida por todos.
Expresso essa expectativa porque parto da convicção de que o governo tem
claro que a bancada não é correia de
transmissão, que ela representa um patrimônio inalienável do PT e desempenha um papel importante na relação do
partido com o conjunto da sociedade.
Sem o oxigênio processado pela bancada, o partido correria o risco de definhar. E isso não interessa a ninguém.
Um governo que se esmera na construção de fóruns que buscam criar consensos no seio da sociedade não tem razões
para excluir do debate sua base parlamentar.
Nelson Pellegrino, 42, advogado, é deputado
federal pelo PT-BA e líder do partido na Câmara.
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