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TENDÊNCIAS/DEBATES
Parlamentares petistas que votarem contra decisões do partido deverão ser punidos?
NÃO
Democracia é fundamental
ANA JÚLIA CAREPA
O PT é um partido radicalmente democrático. Nascido na luta social,
no confronto com a ditadura militar e
na crítica ao stalinismo e à social-democracia, o PT tem na democracia tanto
um valor interno como uma proposta
para a sociedade. Da luta, nós construímos o compromisso de transformar a
cruel realidade do capitalismo periférico. Do confronto com a ditadura, construímos a defesa da liberdade e da participação popular nos destinos do país.
Da crítica aos modelos autoritários,
construímos uma concepção democrática de socialismo e um partido com direito a tendências, com debate, com vigor militante e com unidade.
Para nós, portanto, democracia interna e democracia como proposta são indissociáveis. Em um país periférico, em
meio a uma ordem antidemocrática e
enfrentando uma das piores situações
de desigualdade socioeconômica, o PT
cresceu, fortaleceu-se, tornou-se governo em municípios e em Estados e firmou-se como o maior partido de esquerda da América Latina. Agora, tendo conquistado a Presidência da República, o PT tem o desafio de fazer avançar qualitativamente a democracia no
Brasil e, ao mesmo tempo, fazer avançar
a sua própria democracia interna. Essa é
a condição básica para enfrentarmos os
imensos desafios que temos pela frente.
O neoliberalismo, de Collor a FHC, legou-nos um país mais dependente economicamente e menos soberano politicamente. Com mais concentração de
renda e miséria absoluta. Os avanços
democráticos, duramente conquistados, foram sempre ameaçados e tolhidos. Quem não se lembra das ameaças
do megaespeculador Soros, que queria
caçar o direito soberano do povo brasileiro de escolher seu presidente? Ou dos
Estados Unidos, que tentam nos obrigar
a pensar que não há outro caminho no
mundo, senão a submissão ao seu império? Ou ainda do FMI, que nos impõe
uma política econômica que leva a mais
desemprego e a maior subordinação às
finanças internacionais? Essas ameaças,
naturalmente, não cessaram. Vencemos uma grande batalha pela democracia e pela soberania com a eleição de Lula. Mas muitas outras estão por vir. A luta apenas começou.
É dentro desse contexto que temos de
compreender e saber como resolver os
impasses que têm surgido neste início
de governo. O debate que hoje existe em
amplos setores partidários sobre a política econômica do nosso governo é democrático e saudável. Esse debate acontece não só entre os que a imprensa rotulou de radicais mas também entre vários economistas do PT, que não têm ligação com qualquer grupo dito radical,
e com vários outros setores do partido.
Lula foi eleito com o sentimento da mudança e tem reafirmado isso em todos
os seus discursos. Como superar o modelo neoliberal, que produziu recessão e
desemprego, aumentou nossa vulnerabilidade externa e foi amplamente rechaçado nas urnas? Esse é um desafio
para o PT, para os aliados e para a sociedade.
Acredito que, ao reafirmarmos a resolução do programa de governo de Lula,
no 12º Encontro Nacional do partido,
quando ficou estabelecida a diretriz de
ruptura com o modelo neoliberal, estamos reafirmando retoricamente não
apenas uma deliberação do fórum
maior do partido mas a absoluta crença
de que só é possível construir um modelo de desenvolvimento que recoloque o
Brasil no caminho do crescimento econômico e que gere os empregos necessários, se este modelo neoliberal, gerador de desemprego, recessão e submissão, amplamente rechaçado nas urnas,
for radicalmente mudado. A polêmica
que está instaurada é como vamos fazer
esse debate. Particularmente, creio que
o melhor caminho seja o debate interno,
e não o debate pela imprensa. Acredito
que o PT, que tem reafirmado a sua democracia interna para reafirmar a democracia na sociedade, sempre tenha
garantido o direito ao debate de idéias.
Por isso é necessário e urgente que o façamos.
Nós, que apoiamos e defendemos o
governo, precisamos debater para que
seja implementada uma transição de fato para um outro modelo econômico,
que atenda o clamor das urnas.
Portanto aprofundar o debate democrático sobre como viabilizar um programa de governo que defende uma política que possa trazer crescimento econômico, geração de empregos e mais
qualidade de vida é o desafio colocado
para todos nós. Essa é uma polêmica
que vai além do próprio PT. Buscar
meios de democratização do debate e
das decisões, de modo que a participação incorpore os cidadãos diretamente.
Cabe ao PT essa grande responsabilidade nesse processo, que exige mais democracia partidária, mais partido. Sabemos debater com respeito, sabemos
valorizar as diferenças e construir nossa
unidade. O momento não de é punições, é de diálogo. Sei que, além de mim,
muitos querem trabalhar apaixonadamente para que este governo dê certo,
pois sabemos que esta é a chance para
que o Brasil dê certo. Vamos vencer
mais este desafio.
Ana Júlia Carepa, 45, bancária e arquiteta, é senadora pelo PT-PA.
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