São Paulo, domingo, 15 de fevereiro de 2004

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REFORMAS PETISTAS

Em encontro com a imprensa, realizado na quarta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tratou de temas variados. O Planalto ainda não havia sido atingido pelos efeitos das revelações de que o subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil, Waldomiro Diniz, esteve envolvido em graves irregularidades -e o presidente conversou com os jornalistas trazendo à tona temas relativamente delicados. Dois deles chamaram especialmente a atenção: as reformas política e trabalhista.
No primeiro caso, o aspecto mais polêmico foi a visão do presidente de que o "caminho natural" do Brasil é o bipartidarismo. Num sistema semelhante ao que vige em países como a Alemanha e Reino Unido, Lula imagina duas grandes forças majoritárias revezando-se no poder em alianças com legendas menores. Em sua opinião, um quadro como esse tenderia a reduzir o fisiologismo estimulado pelo regime atual, no qual a formação de alianças exige um interminável processo de concessões e troca de favores. Nesse futuro cenário, o petismo, na opinião do presidente, poderia reunir-se num mesmo partido com o PSDB.
Essas avaliações demonstram a inclinação do PT de tentar liderar uma área de centro-esquerda na política brasileira, procurando recosturar, em parte, a antiga frente da época da redemocratização. O fato de que o atual governo venha dando continuidade a políticas formuladas pela gestão anterior não deixa dúvidas de que do ponto de vista das orientações ideológicas, o novo PT está extremamente próximo ao PSDB.
A afastá-los, está a história recente. Durante oito anos, o petismo, na oposição, confrontou-se com a administração Fernando Henrique Cardoso, recorrendo, para isso, a toda sorte de "bravatas", como o próprio presidente Lula admitiu.
Se hoje o principal líder do PT estima que estará futuramente na mesma agremiação de seu ex-adversário, não é de espantar que tenha assumido na questão da reforma trabalhista -o outro tema polêmico a que se dedicou no jantar de quarta- posições anteriormente execradas pelo PT. Com efeito, resguardar apenas o direito de férias como algo fora da mesa de negociações numa reformulação da CLT é o tipo de declaração que poucos acreditariam ter partido de Lula. É conhecida a lógica pela qual líderes egressos da esquerda fazem as reformas que os conservadores não conseguem implementar. É o que vai ocorrendo na atual gestão.
Não que a legislação trabalhista em vigor não mereça aperfeiçoamentos. Antiquada, ela está a pedir atualização -o que não deveria ser confundido, muito menos por alguém com o perfil de Lula, com a supressão de direitos históricos de trabalhadores.



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