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CLONAGEM PARA O BEM
É um notável feito científico a
clonagem de embriões humanos obtida por pesquisadores sul-coreanos. Os cientistas da Universidade Nacional de Seul não apenas conseguiram desenvolver ovos humanos
por técnica de transferência nuclear
(a mesma que criou a ovelha Dolly)
até o estágio de blastocisto (conjunto
de cerca de cem células) como também puderam extrair células-tronco
desses embriões.
Outros grupos já reivindicaram ter
clonado embriões humanos no passado. Essa, porém, é a primeira vez
em que o feito foi devidamente comprovado por uma publicação científica de primeira linha (a norte-americana "Science") e em que os pesquisadores descrevem detalhadamente
todos os seus passos.
Como é inevitável, a realização dos
sul-coreanos reacende a polêmica
em torno da clonagem humana, que,
no Brasil, já está aquecida pela aprovação, na Câmara, de um texto que,
se sancionado pelo Senado, proibirá
todo tipo de clonagem humana no
país, seja a reprodutiva (destinada a
gerar um bebê), seja a terapêutica
(com vistas a curar doenças).
Há praticamente um consenso
mundial em torno, se não da proibição, ao menos de uma moratória para a clonagem reprodutiva. Criar um
ser humano que seja uma cópia genética da pessoa que lhe cede a célula
original não atende a nenhum interesse mais nobre da humanidade e
ainda traz o risco, hoje ainda enorme, de criar aberrações. Entre animais clonados, é muito alto o índice
de problemas de saúde tanto na gestação como após o nascimento. Se
uma ovelha ou uma vaca surgem
com graves más-formações, elas podem ser sacrificadas. Seres humanos, evidentemente, não o podem.
Mesmo que todos as dificuldades
técnicas sejam resolvidas, o que não
está no horizonte próximo, ainda assim parece altamente questionável
permitir que se criem cópias genéticas de indivíduos atuais.
Muito diferente é o caso da clonagem terapêutica. Aqui nós não estamos falando em destruir ou em colocar em risco a saúde de indivíduos e
nem mesmo de fetos. A clonagem terapêutica lida com blastocistos que
nem chegam a ser implantados num
útero. São, no máximo, vida em potência, não muito mais do que espermatozóides ou óvulos isolados.
E o benefício que a pesquisa com
células-tronco embrionárias, que
conservam a capacidade de converter-se em qualquer tipo de tecido, poderá trazer é considerável. Células-tronco são a grande esperança da
medicina para, no futuro, curar
doenças degenerativas, como diabetes e mal de Parkinson, e também para reparar órgãos e tecidos danificados por não importa qual etiologia.
Melhor ainda, células-tronco clonadas do próprio paciente eliminariam
o fenômeno da rejeição, que, apesar
dos avanços na imunossupressão,
ainda é um problema em vários tipos
de transplantes.
O experimento dos sul-coreanos,
ao mesmo tempo em que torna um
pouco menos distante as promissoras possibilidades médicas colocadas pela clonagem terapêutica, também torna mais premente o risco de
algum aventureiro lançar-se na clonagem reprodutiva. Daí a importância de criar urgentemente normas
que regulem a pesquisa genética
dentro de padrões éticos aceitáveis.
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