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Forte apache brejeiro
FERNANDO CANZIAN
São Paulo - É inacreditável como
ainda é possível encontrar aqui e ali
vozes de apoio aos desvairos do governador Itamar Franco. Não se trata de
criticá-lo pelas suas convicções ou pelas contas que faz debruçado sobre as
colunas de receitas e despesas do Estado.
O cerne da questão é a maneira infame e populista como conduz o confronto com o governo federal.
O exemplo de quinta-feira passada
nesse joguinho de xadrez quixotesco é
emblemático. Ao anunciar em nota
oficial e sem explicações que Itamar
faria uma reunião com o comando de
sua Polícia Militar no dia seguinte,
um dos membros do séquito do governador, Mauro Santayanna, por sinal
sem cargo formal, afirmou: "Interpretem (a reunião) como vocês quiserem".
A declaração, digna de um líder de
forte apache, veio embalada em um
clima de resposta, na mesma nota,
"às hostilidades crescentes contra o
povo mineiro" geradas pelos bloqueios
de verbas do governo federal.
Francamente, seria lamentável que
mesmo uma pequena parte dos mineiros e brasileiros engolisse atitudes como essa, dignas de "grandes homens"
da década de 30, e cerrasse fileiras ao
lado de Itamar.
De novo, não se trata de uma crítica
à validade dos protestos ou das convicções de Itamar. Mas da condução
ao mesmo tempo infantil e nefasta do
processo.
Itamar quer, no grito e na mídia, ser
o marco e o ícone da oposição ao governo Fernando Henrique. Aposta no
"quanto pior melhor" (para ele), e obviamente as coisas não vão muito
bem.
Entre as rãs da espécie Hyla versicolor, natural da América do Norte, há
um comportamento semelhante.
Quanto mais longo e alto for o barulho produzido pelo pequeno bicho,
maiores serão as chances de o macho
atrair para si as fêmeas.
É um comportamento biológico, movido pelo instinto e desprovido de inteligência, que acaba levando muita
gente para o brejo.
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