São Paulo, segunda, 15 de fevereiro de 1999

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Forte apache brejeiro

FERNANDO CANZIAN
São Paulo - É inacreditável como ainda é possível encontrar aqui e ali vozes de apoio aos desvairos do governador Itamar Franco. Não se trata de criticá-lo pelas suas convicções ou pelas contas que faz debruçado sobre as colunas de receitas e despesas do Estado.
O cerne da questão é a maneira infame e populista como conduz o confronto com o governo federal.
O exemplo de quinta-feira passada nesse joguinho de xadrez quixotesco é emblemático. Ao anunciar em nota oficial e sem explicações que Itamar faria uma reunião com o comando de sua Polícia Militar no dia seguinte, um dos membros do séquito do governador, Mauro Santayanna, por sinal sem cargo formal, afirmou: "Interpretem (a reunião) como vocês quiserem".
A declaração, digna de um líder de forte apache, veio embalada em um clima de resposta, na mesma nota, "às hostilidades crescentes contra o povo mineiro" geradas pelos bloqueios de verbas do governo federal.
Francamente, seria lamentável que mesmo uma pequena parte dos mineiros e brasileiros engolisse atitudes como essa, dignas de "grandes homens" da década de 30, e cerrasse fileiras ao lado de Itamar.
De novo, não se trata de uma crítica à validade dos protestos ou das convicções de Itamar. Mas da condução ao mesmo tempo infantil e nefasta do processo.
Itamar quer, no grito e na mídia, ser o marco e o ícone da oposição ao governo Fernando Henrique. Aposta no "quanto pior melhor" (para ele), e obviamente as coisas não vão muito bem.
Entre as rãs da espécie Hyla versicolor, natural da América do Norte, há um comportamento semelhante. Quanto mais longo e alto for o barulho produzido pelo pequeno bicho, maiores serão as chances de o macho atrair para si as fêmeas.
É um comportamento biológico, movido pelo instinto e desprovido de inteligência, que acaba levando muita gente para o brejo.



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